O inseto Pseudacysta perseae, pertencente à ordem Hemiptera, sub-ordem Heteroptera, vulgarmente conhecido por percevejo do abacateiro, foi identificado na Região Autónoma da Madeira em 2013. Durante quase um século, esta praga esteve limitada à Florida e México. Posteriormente, foi assinalada no sul dos Estados Unidos (1908), Bermudas, Porto Rico, República Dominicana e Venezuela.
Considerando os danos que esta praga provoca no abacateiro, pode-se afirmar que, apesar da sua recente existência na Região, é hoje a principal praga desta cultura, onde tem mais expressão entre os meses de maio e meados de novembro.
Desenvolvimento do “percevejo” do abacateiro
O percevejo do abacateiro desenvolve-se em três estados, nomeadamente ovo, ninfa e adulto.
Os insetos instalam-se na página inferior das folhas do abacateiro e alimenta-se da sua seiva, sendo aí que fazem a postura, perto da nervura central em uma ou mais filas. Toda a postura é coberta por dejetos da fêmea, que é uma substância de cor negra lustrosa e de consistência pegajosa quando depositada recentemente, tornando-se muito dura com o tempo, por efeito da dissecação. Provoca cloroses que evoluem para necroses, causando a queda prematura das folhas.
As ninfas passam por cinco estados ninfais consecutivos. O adulto tem um comprimento aproximado de 2mm, corpo com uma forma longa-oval, apresentam umas asas estendidas para além do extremo do abdómen. A cabeça e o tórax são escuros.
O ciclo de vida deste inseto, desde o ovo até à fase adulta, varia com as temperaturas ocorridas nas regiões que influenciam o número de dias em estado de ovo e das ninfas.
Assim, para temperaturas de 22ºC e 25ºC, a duração do ciclo de vida são cerca de 24 e 21 dias, respetivamente. Para temperaturas inferiores a 10,4ºc, é de esperar que o ciclo do inseto não se complete.
O número de gerações por ano é aproximadamente de 11, o que representa aproximadamente uma geração/mês.
Efeitos do “percevejo” do abacateiro
O percevejo, ao instalar-se na página inferior das folhas, alimenta-se da seiva da planta, provocando lesões amareladas ou castanhas claras, que posteriormente ficam escuras. Pode encontrar-se várias lesões numa folha e de tamanho variável, as quais podem juntar-se cobrindo quase toda a superfície da folha.
Estas lesões diminuem significativamente a atividade fotossintética, levando à queda das folhas.
Verifica-se a desfoliação total dos abacateiros, expondo assim os ramos e os frutos ao sol, o que provoca queimaduras solares nestes órgãos, desvalorizando comercialmente os frutos. Atendendo que o abacateiro é uma espécie perene, estes danos afetam todo o desenvolvimento da planta repercutindo-se na produção. Segundo algumas referências, a presença desta praga pode provocar perdas de cerca de 50%.
Esta praga, quando se instala, tem um ataque sistémico, ou seja, afeta todas as folhas velhas e com numerosos indivíduos em diferentes estados. Atualmente, encontra-se disseminada na costa Sul, desde o litoral até cerca de 500m de altitude em pomares e pés dispersos. Um outro sinal da presença desta praga são pequenas manchas pretas (os dejetos dos insetos), visíveis na superfície das folhas.
Tratamento do “percevejo” do abacateiro
Em Portugal, devido ao facto de a praga ter surgido recentemente no país e o abacateiro ser considerada uma cultura menor com pouca expressão a nível nacional, ainda não existem produtos fitofarmacêuticos (P.F.’s) homologados para o efeito.
O P. perseae tem alguns inimigos naturais que estão sendo estudados, com o objetivo de serem utilizados no controle biológico clássico. Entre eles, destacam-se alguns trips, crisopideos, ácaros predadores e vespas. O crisopideo C. rufilabris foi o inimigo natural que apresentou melhores resultados nos estudos efetuados em laboratório dos Estados Unidos.
Também tem sido observada a suscetibilidade aos fungos entomopatogênicos.
Além de inimigos naturais da P. perseae, foram avaliados na Califórnia alguns inseticidas. O imidaclopride, a abamectina e o spinosade foram alguns dos inseticidas avaliados com base em estudos de impacto residual. Os inseticidas avaliados com base na atividade de contato e seu impacto sobre C. rufilabris foram, entre outros, o óleo de verão e o sabão de potassa.
Deve-se evitar inseticidas de largo espectro, pois podem prejudicar o controle biológico de outras pragas da cultura.
Dos estudos efetuados, verificou-se ainda que alguns inseticidas sistémicos podem ser muito eficazes e podem estar disponíveis para aplicação por meio de sistemas de irrigação.
No entanto, apesar de não existirem P.F.’s homologados para o efeito, já estão a ser feitos esforços pela Direção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural para que os serviços nacionais competentes possam homologar os P.F.’s para controlo da praga.
O artigo foi publicado originalmente em DICAs.