Os acontecimentos dramáticos da guerra na Ucrânia vieram agravar a difícil situação dos produtores de leite portugueses, que pagam os custos de produção (rações, adubos e energia) ao mesmo nível dos colegas europeus, mas recebem o pior preço da Europa, 10 cêntimos abaixo da média comunitária, segundo os últimos dados fornecidos pela comissão europeia.
O aumento do preço do leite registado em Portugal a partir de 1 de janeiro de 2022 chegou com um ano de atraso e já foi anulado pelos aumentos dos custos em 2022. Um saco de adubo que custava 6 euros custa agora 16. A Ucrânia era o primeiro produtor europeu de adubo azotado. O milho já passa os 300 euros / tonelada e a soja 550 euros / tonelada. Não sabemos sequer que milho haverá para entrega, tendo em conta que a Ucrânia era a principal fornecedora de Portugal, que um navio de cereais foi atingido por um míssil e os portos estão fechados. Tudo isto vai destabilizar ainda mais o mercado mundial de cereais que já estava em ebulição por causa do aumento de consumo da China e das secas nas regiões produtoras na América do Sul do Norte.
Surgem notícias de que os alimentos vão aumentar aos consumidores, mas não há qualquer sinal de que as cooperativas e indústrias façam qualquer atualização do preço do leite pago aos agricultores. Interpelados por produtores desesperados, atiram as culpas para a distribuição. As várias cadeias de distribuição atiram a responsabilidade para a indústria ou para os concorrentes. O Governo mandou fazer o “relatório da PARCA” mas não deu qualquer seguimento. Esse relatório, que demorou 6 meses desde que foi prometido até ser divulgado, deve estar numa gaveta à espera do próximo governo que ainda vai demorar dois meses a tomar posse e começar a trabalhar.
Precisamos de ajuda urgente. Precisamos de um aumento imediato do preço do leite ao produtor em cerca de 8 cêntimos por litro e precisamos de um mecanismo para atualizar o preço do leite de acordo com os custos de produção. O mercado do leite não funciona em Portugal e o governo tem que intervir. Senhor Primeiro-ministro, é tempo de Agir!