Marcelo, o “nosso” Professor Marcelo, falou de agricultura no seu espaço de opinião dominical na TVI. O carismático e popular opinador, figura emblemática da política à portuguesa desde sempre, criador de factos políticos há décadas, cosmopolita, brilhante, sagaz e sarcástico, amante do surf e de uma boa conversa, desceu à terra (desta vez com minúscula).
Disse, no domingo dia 2 de dezembro último, que os jovens portugueses estavam a virar-se cada vez mais para a agricultura como forma de construírem um futuro melhor, mas, paradoxalmente, esse fluxo não está a passar pelos cursos de Agronomia.
Essa parece ser, na verdade, uma realidade. Recorro a uma recente afirmação pública da presidente da Escola Superior Agrária de Viseu, em que Paula Correia dizia que este “chamamento à terra” ainda não teve a respectiva correspondência num aumento dos alunos nos cursos de agronomia.
Paula Correia, no entanto, manifesta-se “convicta” que os jovens vão acabar por frequentar estes cursos para “conseguirem levar os seus projectos por diante”. Este é um ponto-chave. A formação, a necessidade de pensar a agricultura em termos estratégicos e do empreendedorismo, apostando na exportação e produzindo aquilo que realmente se precisa, obriga a uma aquisição de conhecimentos e competências empresariais específicas que só a frequência de estabelecimentos de ensino superior credíveis e qualificados podem oferecer, casos estes se reconvertam às novas realidades da produção actual.
Tem aqui o Governo um papel fundamental. Desde logo, através de acções de estímulo à frequência de cursos de Agronomia, seja nas universidades, nos politécnicos, seja em escolas de ensino profissional agrícola que devem merecer uma atenção especial dos Ministério da Educação e da Agricultura, por forma a garantir um ensino prático decisivo para a formação dos empreendedores, agricultores do futuro.
José Martino
Engenheiro Agrónomo