A maioria dos Portugueses não soube, nem sabe, que o preço dos cereais decresceu em termos reais, entre 1996 e 2006, 80%.
Não sabe, também, que os agricultores receberam pagamentos compensatórios a que muitos, ignorante e maldosamente, chamam de subsídios, que apenas compensaram em parte esse enorme decréscimo. Consequentemente, não sabe que no mesmo período, o rendimento líquido do empresário agrícola decresceu 30% em termos reais. Também, gente de responsabilidade e com o acesso aos meios de comunicação que os agricultores não têm, não explicou aos Portugueses que, por exemplo, a produtividade do milho aumentou no mesmo período 220% em Portugal contra 150% em Espanha e 123% nos Estados Unidos. Também não explicou à sociedade Portuguesa, que os agricultores do nosso País têm vindo a esgotar todos os quadros comunitários de apoio, (excepto o último esgotado por Espanha e Itália pelas razões conhecidas), num esforço de investimento sem precedente. Algumas explorações começaram do zero em 1986 vindas do período conturbadíssimo da Reforma Agrária. E ninguém fora do sector conhece haver ainda agricultores que têm que esperar por 2010 ou 2013 para verem voltar as terras às suas mãos. Estes, se quiserem aumentar as suas explorações, têm como única alternativa comprar terra a preços inflacionados por especuladores estrangeiros.
Mas voltando ao investimento, também não se disse que em 1999, o número de explorações que beneficiavam de regadio privado era cerca de 10 vezes superior ao número de explorações que recorriam ao regadio público, indicador inequívoco do esforço que os agricultores realizaram na inovação tecnológica do uso da água. Veja-se também o que se conseguiu ao nível dos produtos de qualidade: no leite, na carne, no queijo, no vinho, no azeite, a maioria deles hoje classificados com denominações de origem. Em 1997 abria a fábrica da beterraba em Portugal. 10 anos depois somos os melhores produtores de beterraba do Mundo, tendo ultrapassado países que conhecem a cultura desde os tempos de Napoleão. Tal revela a enorme vontade de diversificação e enorme capacidade dos agricultores Portugueses para adquirirem know-how, sempre e quando para tal possuam os incentivos certos. Mas houve quem conseguisse acabar com o projecto beterrabeiro. O que sentiriam os Portugueses se se dissesse à Selecção Portuguesa de Futebol, a segunda melhor da Europa, que, a partir de agora, quem passaria a representar Portugal seria a selecção Brasileira ou a Francesa, por serem mais competitivas.
Pouco competitivas são as estruturas políticas nacionais. Segundo a lógica de algumas individualidades, que afirmam publicamente terem os agricultores muito que aprender com os seus congéneres Espanhóis, os responsáveis pelas referidas estruturas Políticas terão muito mais a aprender. Nunca um responsável político Espanhol diria que os seus agricultores teriam que aprender com os agricultores Franceses, porque aí, caso o fizesse, Sua Majestade o Rei, encarregar-se-ia, imediatamente, de o mandar calar.
Fica então claro que, é a falta de “competitividade”, ou será “competência” das nossas estruturas políticas que dificulta o bom funcionamento da Agricultura Nacional.
É disto exemplo o inexplicável atraso de 2 anos na implementação do PRODER.
Os agricultores Portugueses já demonstraram do que são capazes. Conseguirão os responsáveis políticos fazer o mesmo ou, será para nós o Ministério como Cristóvão Colombo para Winston Churchill:
“Não sabe para onde vai, não sabe onde chegou, continua sem saber onde está e sempre com o dinheiro dos outros.”
Maria Gabriela Cruz
Agricultora – Dirigente Associativa