Numa altura em que se soube que em 2022, Portugal teve o défice comercial mais elevado de que há registo, o sector da cortiça registou o maior saldo positivo da balança comercial de que há memória.
Em entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, o secretário-Geral da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR) João Rui Ferreira, revelou os resultados de 2022: pela primeira vez o sector da cortiça ultrapassou a barreira dos 1200 milhões de euros de exportações, mais 7 por cento do que em 2021 e 14 por cento acima dos valores pré pandémicos. O saldo da balança comercial foi de 960 milhões, o que significa que por cada euro exportado foram retidos 80 cêntimos de valor em Portugal. Para 2023 o sector espera manter o ritmo de crescimento à volta dos 100 milhões.
As rolhas continuam a ter o maior peso nas exportações, representando 73 por cento do total exportado, num valor global de 900 milhões de euros, o que, segundo João Rui Ferreira, constitui também “um marco histórico para o sector”.
E nem o facto de as exportações para a Rússia terem passado dos 16 milhões de euros para zero prejudicou o sector que acabou por encontrar alternativas nos mercados já existentes. O Secretário-geral da APCOR admite que investindo na promoção da indústria e na floresta, seja até possível atingir a meta dos 1.500 milhões de euros de exportações antes de 2030, mantendo um ritmo de crescimento de 3 por cento, não tanto em volume, mas mais em valor.
Tal como tem acontecido noutros setores, o preço dos produtos de cortiça em 2022 subiu, sobretudo devido ao aumento da matéria-prima em cerca de 25 a 30 por cento, uma situação decorrente da falta de extração de cortiça por causa das condições climáticas e dos custos associados a essa extração. Em 2023 os preços vão continuar a aumentar porque irão refletir ainda o impacto da campanha de 2022. Segundo a APCOR o ritmo de crescimento do sector obrigou mesmo à importação de matéria-prima num montante de 254 milhões de euros, um valor superior ao habitual. Para reduzir as importações João Rui Ferreira adiantou que o sector está a trabalhar com o governo na criação de um plano para alargar a área reservada ao montado de sobro. A APCOR considera que seria necessário ter mais 300 mil hectares de montado de sobro nos próximos 20 anos.
Para além da floresta o secretário-geral da APCOR espera que seja possível continuar a contar com os fundos comunitários, nomeadamente do PT2030, para as campanhas de promoção da cortiça no estrangeiro. Segundo João Rui Ferreira Portugal, enquanto líder mundial do sector, tem responsabilidades acrescidas e deve coordenar esforços para manter essa liderança. Para além da campanha promocional, a APCOR vai trabalhar para obter fundos comunitários para continuar a revolução tecnológica do sector. Nesse sentido, está já a levar a efeito um levantamento das necessidades de todo o sector. João Rui Ferreira espera que haja estabilidade política e estratégia a médio e longo prazo para operacionalizar os recursos existentes.
Entrevista conduzida por Rosário Lira (Antena1) e Hugo Neutel (Jornal de Negócios).