O tigre tem pés de barro? – Paulo Pimenta de Castro

O Sector Florestal Português é ainda hoje o 3.º maior exportador da Economia Nacional, destacando-se em relação aos demais em termos do Valor Acrescentado Nacional, onde atinge o 1.º lugar, ou seja, é o que incorpora maior valor nacional por unidade exportada (90 cêntimos por cada Euro exportado). O sector é actualmente responsável por 1,65% do Produto Interno Bruto, por 1,8% da população empregada em Portugal, coloca três empresas no TOP 100 Mundial e produz um Valor Acrescentado Bruto por hectare de floresta de 310 Euros/hectare, o valor mais alto dos 27 Países da União Europeia. Contudo, apesar do considerável peso do sector na Economia Nacional e do seu ajuste perfeito para resposta às actuais necessidades do País, designadamente no que respeita à criação de riqueza, de emprego e aumento das exportações, o mesmo encontra-se hoje numa encruzilhada.

A falta de estratégia e o “consenso” (desinteresse) a que tem sido votado pelos Poderes Públicos, leva a que hoje a entidade máxima da Administração Central na área florestal estime que em 15 anos não exista matéria prima suficiente para a viabilidade de muitas empresas, não só de pequeno porte, já hoje com problemas gravíssimos de subsistência, mas também da indústria transformadora pesada. A acontecer este cenário, não só fica atestada a incompetência nacional de em tempo precaver a situação, como se fomentará a pobreza, sobretudo em regiões já hoje desfavorecidas, onde o êxodo rural é cada vez mais acentuado. Importa ter presente que, qualquer intervenção política em espaços florestais só produzirá efeitos a médio e longo prazo, mais do que um ciclo legislativo. As árvores levam décadas a crescer, logo a disponibilizar bens, seja madeira, cortiça ou frutos, e serviços, paisagem e espaços de lazer.

Ao longo de décadas foram diagnosticados os problemas da Floresta Portuguesa e definidas estratégias de actuação, contudo, muitas delas não passaram até hoje de processos de intenção. A coexistência do sub-aproveitamento do potencial florestal e da sobre-exploração das matérias primas florestais tem-se vindo a agravar há décadas. Urge assim actualizar posições e garantir, de forma consequente e firme, que as necessárias medidas de fomento do investimento em Floresta se tornem realidade, sejam ao nível do cadastro rústico, quem é dono do quê, da fiscalidade adaptada, do controlo e seguro para os riscos, seja ao nível do seu financiamento, com destaque para a necessária garantia de eficiência e de eficácia na utilização dos fundos públicos, ou seja dos impostos de todos nós. Reforça-se que, qualquer intervenção política na Floresta só produz efeito no prazo de uma, no caso da floresta de eucalipto, a várias décadas, nas demais espécies. A Floresta tem hoje disponíveis, para além dos actuais 3,4 milhões de hectares que ocupa, embora de forma deficiente na sua maioria, mais cerca de 2 milhões hoje abandonados ou semi-abandonados. O País não está em condições de desperdiçar, ou melhor, de desproteger uma tão vasta área do seu território, hoje votada a incêndios cíclicos, com a libertação de milhões de toneladas de carbono para a atmosfera.

Face à evidente necessidade de garantir a sustentabilidade dos recursos naturais associados à Floresta Portuguesa e de ajustar a oferta à procura de bens e serviços, melhorando a posição que a Fileira Florestal ocupa na Economia Nacional, um grupo de cidadãos, com e sem ligação profissional à Floresta, constituíram a Acréscimo – Associação de Promoção ao Investimento Florestal, para, de forma organizada, poderem dar o seu contributo. A associação pretende vir a actuar essencialmente junto dos Decisores Políticos Nacionais e Europeus, sempre em estreita colaboração com as demais organizações e empresas do sector silvo-industrial. Na sua actuação, a Acréscimo terá em vista a necessidade da Floresta Portuguesa em responder, de forma sustentável, a uma procura mundial de bens e serviços de base florestal que tende a aumentar, a mercados cada vez mais exigentes, mantendo-se como suporte essencial ao Desenvolvimento Rural e da Economia Nacional, com forte impacto nas exportações, grande parte em bens de valor tecnológico superior.

Paulo Pimenta de Castro
Presidente da Direcção
Acréscimo – Associação de Promoção ao Investimento Florestal

AFN teme falta de madeira dentro de 15 anos – Paulo Pimenta de Castro


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