Com uma baixa considerável da produção de alimentos, África enfrenta os efeitos severos das alterações climáticas na agricultura. A biotecnologia pode ajudar, mas a sua adoção está a ser tímida. Porquê? Uchechi Moses, estudante de pós-graduação do Departamento de Biotecnologia na Universidade de Osaka, no Japão, responde.
No dia 9 de junho de 2022, chuvas persistentes destruíram Lagos, o estado mais populoso da Nigéria.
Mas este não é caso único em África. Na última década, as inundações e as secas aumentaram em todo o continente africano devido às alterações climáticas. A seca severa que afeta a África Oriental murchou as colheitas e tornou improdutivas as terras agrícolas, deixando mais de 10 milhões de pessoas altamente vulneráveis à desnutrição e à fome.
Não obstante, e embora fosse uma forma eficaz de contornar a baixa produção agrícola, tem-se verificado uma baixa taxa de adoção tecnologias agrícolas modernas por parte dos agricultores africanos. Em países como os EUA, Canadá, Brasil, Índia, Argentina, Austrália e outros, a utilização dessas técnicas permitiu aumentar o rendimento das culturas agrícolas e reduzir a aplicação de agroquímicos. Nesse caso, porque razão os agricultores africanos estão a demorar a adotar as técnicas agrícolas modernas?
Na opinião de Uchechi Moses, estudante de pós-graduação do Departamento de Biotecnologia na Universidade de Osaka, no Japão, a reação dos agricultores africanos deve-se às campanhas de rejeição da biotecnologia agrícola lideradas por ativistas locais, mas financiadas e conduzidas por grupos ambientalistas nos países ocidentais. Além disso, como afirma Uchechi Moses num artigo publicado na Genetic Literacy Project, tem havido um investimento inadequado de recursos, tanto académicos como comerciais, em investigações voltadas para culturas consumidas pela população africana. Diz Uchechi Moses que essas culturas, batizadas de “orphan crops (culturas órfãs)”, são muito promissoras, pois poderiam ser consumidas noutros continentes, já que naturalmente desenvolveram uma resistência aos efeitos das mudanças climáticas locais. Algumas dessas culturas órfãs poderiam substituir as culturas convencionais importadas, cujos preços dispararam devido à guerra na Ucrânia. Antes da guerra, a Rússia e a Ucânia produziam cerca de 28% do trigo comercializado globalmente, 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol.
Leia a opinião de Uchechi Moses na Genetic Literacy Project.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.