
Um estudo recente publicado na revista PLOS ONE revela que uma nova variedade de batata geneticamente modificada, designada “3R-gene”, promete conferir resistência ao tombio tardio (late blight), uma das doenças mais devastadoras deste cultivo. Desenvolvida pelo Centro Internacional da Batata em parceria com cientistas no Quénia, esta inovação poderá gerar ganhos de mais de 8 milhões de dólares anuais para o país e ajudar a tirar da pobreza milhares de pequenos agricultores.
O Quénia tem-se destacado no uso de tecnologias de biotecnologia para enfrentar o tombio tardio (Phytophthora infestans), fungo capaz de dizimar colheitas inteiras de batata e obrigar os agricultores a despender somas elevadas em fungicidas. O estudo coordenado pelo Centro Internacional da Batata (CIP) e por parceiros quenianos avaliou os benefícios de três novas variedades transgénicas — Shangi 3R-gene, Asante 3R-gene e Tigoni 3R-gene — criadas para resistir a esta doença, incorporando diretamente genes de resistência em variedades locais já amplamente utilizadas pelos produtores.
Das três variedades, a 3R-gene Shangi sobressaiu como aquela que poderá gerar maiores benefícios económicos. De acordo com os investigadores, a adoção desta batata transgénica permitiria ao Quénia auferir mais de 8 milhões de dólares por ano em lucros, devido aos custos de produção mais baixos e aos rendimentos significativamente superiores. “Este avanço representa não apenas um alívio financeiro para milhares de pequenos agricultores, mas também uma melhoria direta nas condições de vida das comunidades que dependem da batata como subsistência básica”, afirmam os autores do estudo.
Os especialistas estimam que a implementação generalizada da 3R-gene Shangi tem o potencial de retirar da pobreza mais de 90 000 pessoas nos próximos anos. Isto porque, ao reduzir a necessidade de fungicidas e aumentar a produtividade, esta variedade contribui para reforçar a segurança alimentar, sobretudo nas zonas rurais onde muitas famílias dependem deste cultivo para sobreviver. Além disso, a diminuição das perdas por tombio tardio poderá libertar recursos que seriam destinados a fungicidas, permitindo que os agricultores invistam em outras necessidades, como a educação e a saúde.
A tecnologia “3R-gene” consiste na inserção de três genes de resistência ao tombio tardio em cada variedade local. No caso da Shangi, Asante e Tigoni, trata-se de cultivares já adaptadas às condições de cultivo e preferidas pelos agricultores quenianos, mas que eram particularmente suscetíveis ao fungo causador do tombio. Ao incorporar estes genes, os cientistas conseguiram conferir proteção eficaz sem alterar significativamente as características agronómicas ou o sabor das batatas.
Este desenvolvimento coloca o Quénia na vanguarda da biotecnologia agrícola em África. A adoção de variedades transgénicas tolerantes a doenças constitui uma abordagem moderna para aumentar a produtividade, reduzir os custos de produção e reduzir o impacto ambiental associado ao uso intensivo de fungicidas químicos. Além disso, os investigadores sublinham que as variedades 3R-gene mantêm todas as propriedades nutricionais e de sabor das batatas convencionais, o que é determinante para a aceitação dos consumidores e para a integração nas cadeias alimentares locais.
A partir desta evidência científica, a comunidade agrícola queniana é convidada a confiar na ciência e a abraçar soluções biotecnológicas que já demonstraram impacto positivo. Os parceiros do CIP e as autoridades locais preparam agora programas de extensão rural para informar e apoiar os agricultores na transição para estas novas variedades. A expectativa é que, em breve, as primeiras sementes de 3R-gene Shangi estejam disponíveis para plantio na próxima época agrícola.
Leia o estudo aqui.
O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.