As palavras, como os antibióticos, perdem eficácia quando usadas com descuido: quando se abusa delas, por exemplo, ou quando, de tão repetidas sem produzirem qualquer efeito, se esvaziam, se esfumam de sentido. O resultado é que, mais cedo que tarde, quando realmente necessitamos deles, descobrimos que já não servem, e a infeção progride. Assim é, diante dos fogos, a conversa há dezenas de anos repetida sobre as alterações climáticas, as famosas “causas estruturais” que explicam a proporção dos incêndios que nos infernizam cada Verão e as igualmente afamadas “reformas da floresta e da estrutura fundiária” nacional.
À hora que vos escrevo, os ministros da Agricultura da União Europeia estão reunidos em Bruxelas, cidade onde a temperatura deverá chegar os 40 graus centígrados, tal como em Londres. Isto enquanto a onda de calor tórrido atinge sobretudo vários países do Sul, e uma gigantesca vaga de incêndios florestais devasta milhões de hectares em Portugal, Espanha, França e Itália. Esta reunião coincide, aliás, com a divulgação de um relatório da Comissão onde se reconhece o que todos pressentimos: “A seca severa que afeta diversas regiões da Europa desde o início do ano continua a expandir-se e a agravar-se”, devido à combinação de falta de chuva e ondas de calor.
Não basta atirar dinheiro e conversa piedosa para cima das tragédias. Os cientistas, que há […]