ONU denuncia cortes na ajuda alimentar a refugiados rohingya no Bangladesh

O relator especial das Nações Unidas sobre a situação dos direitos humanos em Myanmar (ex-Birmânia), Tom Andrews, denunciou hoje os cortes “catastróficos e lamentáveis” na ajuda alimentar aos refugiados rohingya que fugiram para o Bangladesh.

Andrews apelou aos Estados-membros da ONU para inverterem estes cortes e disse que a decisão “repousa na consciência da comunidade internacional”.

“Falei com famílias desesperadas nos campos de refugiados que já tiveram de reduzir a quantidade de alimentos devido ao aumento dos preços”, afirmou num apelo que dirigiu aos membros da ONU, citado pela agência espanhola Europa Press.

É uma “questão de vida ou de morte” para estas famílias, disse.

Andrews referia-se a cortes nos fornecimentos pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) que poderão significar uma diminuição de 30% dos alimentos atualmente entregues aos refugiados rohingya.

Segundo o relator especial da ONU, “estes cortes podem ser devastadores para uma população que já sofre de subnutrição”.

“O impacto dos níveis inadequados de alimentos para os rohingya é incalculável: 40% das crianças já estão a sofrer as consequências, 51% destas crianças são anémicas, tal como 41% das mulheres rohingya grávidas, enquanto 45% de todas as famílias que vivem nos campos têm dietas inadequadas”, afirmou.

Sem meias-palavras, Andrews disse que muitos países da ONU “têm oferecido apoio retórico aos rohingya, mas estas famílias não podem comer retórica”.

“Temos de preencher estas várias declarações e apoiar a vida”, apelou.

Andrews defendeu que se a situação não for invertida o mais rapidamente possível, “o impacto será catastrófico e a longo prazo”.

Segundo referiu, a má nutrição e o saneamento deficiente podem ter “graves consequências para a saúde durante gerações”.

Andrews salientou que os cortes irão afetar quase um milhão de refugiados que fugiram de “ataques genocidas pelo exército birmanês” e que a crise alimentar é apenas a “ponta do iceberg” da situação terrível que enfrentam.

O relator especial disse que o valor da atribuição mensal de ração alimentar para cada refugiado rohingya nos campos do Bangladesh foi reduzido em 17%.

“Sem apoio adicional, estes cortes serão ainda mais profundos nos próximos dois meses, com rações alimentares reduzidas em um terço”, referiu.

Isto significaria que, em média, os refugiados rohingya nos campos do Bangladesh “terão de tentar sobreviver com 0,27 dólares [0,25 euros] por dia”, disse.

Segundo as Nações Unidas, mais de 900 mil rohingya viviam no final de 2022 em diversos campos de refugiados no Bangladesh, para onde fugiram de Myanmar por serem perseguidos pelo exército birmanês.

Os rohingya são uma minoria muçulmana que vive em Myanmar, mas que é sujeita a perseguições da maioria budista do país do sudeste asiático.


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