Uma organização de conservação no Zimbabué recolheu este ano cerca de seis milhões de sementes de árvores autóctones para restaurar as florestas dizimadas pelo cultivo do tabaco e o uso da madeira em plena crise energética.
“O que esperamos que as pessoas façam é plantar estas árvores nas margens dos seus campos ou à volta das suas casas”, disse à agência noticiosa EFE Nick de Swardt, cofundador do My Trees Trust (MTT), que pretende distribuir este mês as sementes aos pequenos agricultores para que eles próprios as germinem e plantem.
O MTT, que iniciou as suas operações em 2019, tem como objetivo “colocar a cobertura arbórea de volta na paisagem” do Zimbabué.
As sementes são distribuídas em pequenos pacotes que incluem instruções simples na língua local, shona, sobre como plantar e cuidar delas. Para os recolher, a fundação foi às comunidades rurais, que os venderam por três dólares (2,8 euros) por quilo.
Neste momento, a organização tem 30 viveiros em todo o país onde armazena as sementes, disse De Swardt.
O MTT procura mitigar as elevadas taxas de desflorestação no país, que está a perder cerca de 300.000 hectares das suas florestas nativas todos os anos, de acordo com a Comissão Florestal do Zimbabué.
Dezenas de milhares de pequenos produtores de tabaco causaram até 20% desta perda florestal, utilizando a madeira como combustível para curar as suas folhas em celeiros, um processo que envolve a desidratação das folhas para provocar alterações químicas no seu interior.
Além disso, a crise energética do país levou a uma grande procura de lenha nas zonas urbanas, que sofrem cortes diários de energia de pelo menos 16 horas.
O Zimbabué teve de encerrar, no final de novembro até janeiro do próximo ano, a Central Elétrica de Kariba South Bank, no lago Kariba (noroeste do país), que fornece ao país a maior parte do abastecimento de eletricidade, depois de esgotada a água que o país tinha alocado.
Segundo o cofundador da organização, o projeto é apenas um teste de baixo custo e, se funcionar, seria “uma forma muito barata de cobrir o solo com árvores”.
O MTT planeia realizar um inquérito em fevereiro com os agricultores envolvidos, a fim de perceber quantos conseguiram semear com sucesso.
“A recolha, embalagem e distribuição de uma semente de árvore custa menos de um cêntimo”, reforçou De Swardt.
O custo sobe, contudo, para 2,5 dólares (2,4 euros) quando se trata de uma plântula (as fases iniciais do desenvolvimento de uma planta) que deve germinar, crescer num viveiro e ser distribuída aos agricultores, que devem ser pagos para plantar e cuidar dela durante os primeiros três anos.
Mesmo assim, o MTT pretende plantar 320.000 plantas, este mês, em três distritos agrícolas no norte e leste do Zimbabué, e, no próximo ano, pretende atingir meio milhão.
Embora De Swardt ainda não conheça a taxa de sobrevivência das sementes, a taxa de sobrevivência das plântulas é de 75%. A organização sabe disto porque as conta, pelo menos, duas vezes por ano e monitoriza-as através de uma aplicação chamada Greenstand.
“Tiramos fotografias de cada uma das árvores que plantamos. É preciso contá-las ou então perde-se a noção do impacto que se está a ter”, concluiu o cofundador.