José Pena

Os agricultores são felizes? – José Pena

Periodicamente ouvimos dizer que o sistema agroalimentar é um dos principais setores produtivos no nosso país, apresentando assim um importante papel económico no mesmo. Ora esmiuçando a palavra é direto que alimentar equivale à alimentação, à base de subsistência humana em se alimentar e saber investigar, produzir e comercializar alimentos, mas antes de todas essas etapas vêm mesmo o agro, o velho setor agrícola que se valoriza em função das modas, ou será da necessidade? É necessário valorizar o setor agrícola, afirmativo, mas antes é mesmo preciso conhecer o setor, fazer-lhe um exame geral, uma vez que injetar-lhe o capital das PAC não é o suficiente para saber um pouco dele.

O que me habituei a ver nos últimos anos é uma desagrupação de agricultores e da sociedade agrícola onde entram as associações e agrupamentos, que lutem individualmente pelo produto que defendem, que representam, mas não os culpo, o governo devia promover a coesão. Aliás, eu defendo que o governo não pode ser um gigante de costas largas, para levar com tudo de mau do setor, mas também aponto o dedo quando se exige ao executivo um ministério e seus secretários com qualificações adequadas e em sintonia com a agricultura e isso muito antes da fase da escolha sai ao lado, numa sucessão de anos agrícolas complicados, de momentos de negociação de uma futura PAC e ainda em adaptação de alterações climáticas, o setor não pode ser inferiorizado.

As redes sociais e a comunicação digital têm sido um serviço público muito inconstante, ora o crivo peneira de mais ora o crivo peneira por de menos, quer isto dizer que a época dos sensacionalismos e das exclusividades já deveria ter acabado. Podemos aceitar diversas opiniões e escolhas, mas não podemos deixar que estas sejam tomadas de ânimo leve ou que deixem afetar um todo. Cresci a ouvir dizer que a carne de porco fazia mal, que deveria ser reduzida ou mesmo cortada da dieta humana, depois foram as carnes brancas que estão cheias de gripe, já os meus primos mais novos estão a aprender na escola que as vacas poluem muito e não devem consumir a sua carne. Qual é o objetivo desta aprendizagem? Não fosse eu da área, relaciono-a com o cerco apertado ao leite e ao seu consumo ou aos hortícolas e sua luta contra a suposta injeção de agroquímicos desde a sementeira até à colheita.

Quando lemos um jornal ou assistimos a um noticiário público pago com dinheiro público numa televisão pública (ou não) temos um ataque cerrado aos agricultores, porque são poluidores, porque gastam o dinheiro das reformas agrícolas de forma irracionada, porque não se preocupam com o bem-estar animal, porque utilizam agroquímicos e fatores de produção de forma discriminada: Caros leitores quando forem a caminho de um super/hipermercado mudem de direção e visitem o mercado municipal, quando se sentaram à mesa apreciem os ingredientes e a refeição, quando forem saírem com os vossos amigos apreciem as vossas bebidas, alcoólicas ou não. O podre da nossa sociedade é deixar-se persuadir por ativismos e golpes de marketing ou teatro que representam nada ou levam a lado nenhum. Esta semana deverá sair um estudo a dizer que afinal os vinhos em geral fazem mal, na outra foi um especialista na televisão dizer que não devíamos comer glúten, ainda se lembram que manteiga é só gordura animal e animais não devem comer a gordura uns dos outros? E quando foram os ovos? 

Na atualidade da agricultura vemos os agricultores a abrir as portas das suas explorações, a investir na sua educação ou literacia, a escrever para imprensa ou a mostrar aquilo que fazem de melhor: alimentar Portugal e fazer a sua economia crescer, contribuindo para a queda do desemprego e fomentando a economia circular. Não estranhem se os vossos filhos ao jantar digam que foram visitar uma exploração agrícola ou tiveram numa horta a plantar legumes, o que vocês vêm nas prateleiras são os resultados práticos dos trabalhadores agrícolas, ensinem isso aos vossos filhos e deixem-nos ser livres de escolher a agricultura.

A modernização e internacionalização da agricultura portuguesa melhorou as questões produtivas, tecnológicas e ambientais do setor, demonstrado que a agricultura vai muito mais além que produzir alimentos e passa pela valorização dos produtos agro-florestais, dos serviços de ecossistema, do ordenamento de território e até dos usos e costumes das suas regiões! Se querem um regresso à terra apoiem (sobretudo os jovens agricultores) para isso, vendo o seu impacto social e a criação de riqueza, não um problema burocrático de instalação e de projetos. A atração dos jovens agricultores, e até mesmo dos jovens estudantes agrícolas falada recentemente passa por esta articulação e pode responder aos desafios que nos fala diariamente como as alterações climáticas, os custos da energia, a gestão da água e o êxodo rural áreas rurais.

Por último gostaria de finalizar esta minha opinião pessoal acerca da atualidade agrícola que os agricultores são felizes pois sentem o que fazem, tem uma família atrás de si que os sabe ajudar e confortar, são seres resilientes que lutam todos os dias para dar o melhor do que fazem a todos nós, a nós que queremos leite, carne, arroz, batata, milho, legumes, frutas, vinho e tantos outros alimentos com qualidade. E acrescento: os agricultores serão ainda mais felizes se também nós os começamos a ouvir mais vezes e ignorarmos ativistas e mensagem erradas, se vocês os questionarem.

Estudante-Finalista de Agronomia na Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. Diretor Local da IAAS Ponte de Lima.


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