A organização das 14.ºs Jornadas Internacionais do Hospital Veterinário Muralha de Évora, formulou o convite à APIC para que fosse oradora neste evento, no dia 3 de março de 2023, com o tema: “Os Desafios da Produção de Carne”.
Não foi difícil preparar uma apresentação em PowerPoint sobre desafios da produção de carne, pois como todos sabemos, produzir carne é uma atividade desafiante, diria que é a atividade económica mais fiscalizada e mais escrutinada de que me lembro (embora não goste muito da palavra fiscalização).
Fossem os políticos assim escrutinados e mesmo as organizações públicas ou não, e teríamos certamente melhores respostas, melhores políticas e com certeza maior equidade!
Voltemos aos desafios da produção de carne. Ao longo destes últimos 30 anos, muitas foram as exigências legais criadas para que os alimentos colocados no mercado, sejam seguros, sobretudo a carne e os produtos cárneos, os quais, como sabemos, não podem ser produzidos sem o controlo oficial por médicos veterinários oficiais (da DGAV ou da Câmara Municipal). Não, não vou recordar a falta de veterinários da DGAV e a forma como os matadouros em Portugal têm sido bloqueados pela falta deles. Embora seja lamentável que os abates continuem limitados à disponibilidade dos inspetores sanitários. Este condicionalismo, é sem duvida, um enorme desafio!
Existem outros, que têm vindo a surgir, nomeadamente a produção de carne alinhada com a inevitável descarbonização, evitando/reduzindo o desperdício alimentar, utilizando energias renováveis, reduzindo o consumo de energia e promovendo a energia circular, entre outros.
Neste último, é um excelente exemplo, a produção de biogás a partir de subprodutos de origem animal oriundos de matadouros. Tema a desenvolver noutra oportunidade.
Para além dos desafios temos também uma gama imensa de ameaças e de fraquezas que têm vindo a crescer, pelo facto do setor da carne não ter dado mostras de união e infelizmente, ao longo destes anos, ter-se deixado engolir pela máquina ambientalista desenfreada, parafraseando o jornalista José Ferreira da SIC, os “ambientalistas simplórios”. Os que acusam a produção de carne como a principal indústria com impacto na produção de GEE. Apesar da indústria da carne ter sido das primeiras indústrias a tomar medidas conducentes á sustentabilidade ambiental.
Se elaborássemos uma análise SWOT para a atividade de produção de carne, o que teríamos?
Em termos de ameaças: os fatores externos que têm perturbado a atividade industrial, o aumento de preço dos fatores de produção, o aumento de preço do CO2, aumento de preço das matérias-primas, entre outros, o aumento do preço do combustível, o aumento de preço da energia elétrica e do gás, que sabemos chegou a valores de aumento de 500% em 2022.
Passando para as fraquezas, naturalmente que temos de evidenciar os Mitos que foram sendo criados em torno da produção de carne.
Ouvimos muitas vezes expressões, que são consideradas verdades absolutas, tais como:
- A produção de carne consome muita água?
Em primeiro há que sublinhar que existem 3 tipos de fontes de água”: água azul, que resulta de água proveniente de águas superficiais ou subterrâneas; água cinzenta, que é a água utilizada para despoluir os efluentes e reciclá-los e água verde, que é a água proveniente da chuva.
Diz-se por aí que são precisos 15.000 litros de água para produzir 1kg de carne. Esquecendo- se, quem o diz, que existe a “pegada hídrica”- a métrica para medir a quantidade de água consumida e poluída. Havendo evidências que >90% da água consumida é “água verde” proveniente das chuvas.
De acordo com a FAO, 1kg de carne bovina removeria cerca de 50 litros de água doce.
- Consumo de carnes vermelhas e carnes processadas provocam cancro?
Fazem-se e apresentam-se estudos sem rigor científico, recorrendo a uma amostra, cuja população consome carne processada que excede a média de consumo.
Inferem que existe associação a um “risco aumentado”, mas não explicam que associação não significa que o consumo de carne vermelha e processada cause cancro, seriam necessários estudos mais precisos.
Ainda, esquecem-se de referir que a mesma inferência se retira no grupo dos vegetarianos.
- 70 % dos Antibióticos na UE são usados em Veterinária?
Comparam o incomparável, pois esquecem-se que o Valor da Biomassa Animal versus a Biomassa Humana é maior. A Biomassa Animal é sensivelmente o dobro da Biomassa Humana na EU. Mais um mito.
E que oportunidades temos neste setor? Não podemos fazer uma lista grande, mas ainda assim, podemos identificar as parcerias que podem ser encontradas em termos de soluções para a eliminação de subprodutos e para a produção de energia alternativa.
Por último, o mais importante, que forças podem ser aplicadas a este setor? Sem dúvida nenhuma, Comunicar em Conjunto!
Comunicar o quê? A quem?
O que se faz em prol do ambiente! As Boas Práticas que promovem a energia circular, que promovem o Bem-Estar animal, que permitem a fixação das pessoas no interior, que criam empregos e que evitam a desertificação.
Sem carne, teríamos certamente mais pobreza. Pobreza daquela que dá fome e pobreza daquela que dá deficiência nutricional.
Por esta razão é que a APIC é parceira do Movimento que se materializa na constituição de um grupo de associações/entidades (agora também com empresas privadas, associados da APIC e uma empresa de aves, que não quiseram ficar de fora) cujo objetivo é comunicar em conjunto (a uma só voz) com vários destinatários, no sentido de defender proativamente as atividades dos sectores agrícola, pecuário e indústria da carne, que têm sido diabolizados, como sabemos.
Por esta razão, a APIC considera que a maior força deste setor, será:
- Unir esforços e Reduzir custos para comunicar!
- Promover melhor articulação e fluidez de informação!
- Ações mais robustas e mais abrangentes! COMUNICAR a UMA SÓ VOZ!
Fonte: APIC