Os fogos de Verão são combatidos com os fogos de Inverno em Vila Real

Gerir a floresta e prevenir incêndios com fogo controlado é uma técnica cada vez mais usada em Trás-os-Montes. E se antes havia desconfiança, hoje os pastores aderem e renovam pastagens.

São muitas as memórias, vivências mas também os mitos em torno do fogo que tanto aquecem mas sobretudo assustam a população portuguesa. Histórias com centenas de anos ou outras do Verão passado e que continuam, muitas delas, a aterrorizar dada a ferocidade das chamas que atravessam as florestas nacionais e dizimam matos, culturas e vidas. Mas há quem esteja a descobri-lo como um aliado.

No clima mediterrânico, as chamas nos montes não são um fenómeno recente. As dimensões que agora assumem, as suas origens e as suas consequências são outros 300, que não são agora para aqui chamados. Aqui falamos da outra faceta do fogo – não a óbvia, que nos aquece e que nos permitiu cozinhar durante milénios –, mas como ferramenta de combate contra, precisamente, os incêndios rurais. Porque limpa os espaços florestais no Inverno, antes que o calor e o mato seco do Verão os alimentem de forma incontrolável. E ainda renova as pastagens.

“O fogo é um mau patrão, mas um óptimo empregado.” É assim que Marco Ribeiro, técnico credenciado nesta técnica, explica o conceito de “fogo controlado” que, ainda hoje, não convence toda a população, apesar de a visão sobre este método de gestão florestal estar gradualmente a mudar.

“O fogo controlado tem, desde logo, a vantagem de ser uma técnica bastante mais económica do que outro tipo de intervenção. É de execução mais rápida e eficaz, mas carece de muito conhecimento técnico, quer para a sua aplicação, quer no seu planeamento prévio, seja ao nível da selecção estratégica dos locais a implementar, quer na avaliação das melhores condições meteorológicas que esta técnica requer, de forma a atingirmos os objectivos sem causar danos secundários”, explicou Marco Ribeiro.

Como o nome “controlado” sugere, trata-se de uma técnica implementada apenas por profissionais credenciados – como é o caso de Marco Ribeiro, que é também um dos técnicos inscritos na Bolsa Nacional de Formadores em Fogo Controlado do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) – para que nada corra mal aquando das intervenções.

Esta técnica, além de ser utilizada para a limpeza dos espaços florestais, é também uma ferramenta útil “para a gestão de habitats e melhoramento de áreas para o pastoreio dos animais, com vista à renovação dos pastos”.

“Estes fogos são de baixa intensidade, realizados apenas durante os meses frios e húmidos de Inverno, e garantem a protecção dos solos, o aumento da disponibilidade de nutrientes imediata e consequentemente a germinação de espécies mais adaptadas ao local”, adiantou Marco Ribeiro.

Visão começa a mudar

No entanto, apesar de esta técnica já ter dado provas do quão benéfica pode ser para proteger os povoamentos florestais, continua a não ser tarefa fácil elucidar a generalidade da opinião pública sobre a importância da ecologia do fogo. Para muitos, o fogo continua a ser visto como um inimigo, apesar de a percepção estar […]

Continue a ler este artigo no Público.


Publicado

em

, , ,

por

Etiquetas: