Os parasitas estão em apuros? Estudo pioneiro indica que sim

Análise de peixes de estuário nos EUA associa aquecimento oceânico à diminuição de parasitas importantes para os ecossistemas. Se fossem mamíferos, teríamos “acções de conservação”, lamenta cientista.

Ao contrário do que acontece com grupos de animais como os mamíferos e as aves, sabe-se muito pouco acerca do impacto das alterações climáticas nos parasitas, que ao invadirem todo o tipo de animais são uma parte importante do equilíbrio de vários ecossistemas da Terra. Agora, um estudo pioneiro analisou os parasitas em oito espécies de peixes apanhados ao longo de várias décadas num estuário dos Estados Unidos e mostrou que as espécies de parasitas que passam por três ou mais hospedeiros ao longo do seu ciclo de vida foram diminuindo de abundância a um ritmo de 11% por década.

O trabalho associa o aquecimento oceânico à diminuição daquelas espécies e diz ser necessário investigar se esta é ou não uma tendência generalizada. “Há muitas pessoas que avançam com a hipótese de que os parasitas podem estar em apuros”, explica ao PÚBLICO Chelsea Wood, investigadora da Escola de Ciências Aquáticas e Piscatórias da Universidade de Washington e primeira autora do estudo publicado há uns dias na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. “Este conjunto de dados dá a primeira prova empírica em relação a essa hipótese. Precisamos de mais dados antes de podermos dizer o que está a acontecer em outros lugares do mundo.”

Chelsea Wood apresenta-se como uma ecóloga de parasitas. Ou seja, estuda as relações dos parasitas com os seus hospedeiros no contexto dos ecossistemas. Esta especialização foi um “acidente”, diz-nos, já que o seu desejo inicial era tornar-se uma bióloga marinha.

“O primeiro projecto em biologia marinha em que estive envolvida foi sobre os parasitas trematodes de gastrópodes [aquáticos]”, explica-nos por correio electrónico. Os trematodes são uma classe de vermes parasitas que pertencem aos platelmintes. Algumas espécies desta classe, que infectam gastrópodes, podem também infectar humanos, provocando a esquistossomose, também conhecida por bilharzíase. “No início, achei os parasitas nojentos. Mas depois de algum tempo de trabalho, eles começaram a ‘fazer-me comichão’ e nunca mais os larguei”, refere, acrescentando um sorriso à frase.

Ciclo de vida complexo

Depois, a ecóloga utiliza o exemplo da espécie trematode Euhaplorchis californiensis para explicar a importância dos parasitas para os ecossistemas. Este parasita é uma das espécies que surgem no estudo da PNAS e percorrem vários hospedeiros ao longo do seu ciclo de vida.

Os ovos deste parasita estão nos ecossistemas entre marés: ficam fora de água na maré vaza e submersos na maré cheia. Quando os ovos eclodem, as larvas rastejam e penetram em gastrópodes. Nestes animais, elas devoram as suas gónadas e replicam-se. Os gastrópodes não se podem reproduzir, mas também não morrem, vão produzindo parasitas bebés que, por sua vez, penetram espécies de peixes da ordem Cyprinodontiformes, que são pequenos peixes que vivem em cardumes. Nestes peixes, os parasitas formam quistos no cérebro.

De seguida, quando estes peixes são predados por uma ave, os parasitas passam para uma nova forma: na presença dos fluidos gástricos da ave, saem do quisto e desenvolvem-se nos indivíduos adultos. Finalmente, enquanto adultos, reproduzem-se entre si e produzem ovos que são libertados para o ambiente nos dejectos das aves, recomeçando o ciclo.

É a fase em que os parasitas passam dos peixes […]

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