Os produtores de leite têm direito à revolta! – José Martino

Tenho especial admiração pelos empresários agrícolas que são produtores de leite de vaca e sobretudo pelos dirigentes da Associação de Produtores de Leite de Portugal (APROLEP). Assumo esta minha posição porque se fosse esta a minha actividade empresarial e estivesse a sofrer, a cada dia que passa, a sua degradação económica e financeira, sem vislumbrar uma qualquer luz ao fundo do túnel que me fizesse acreditar numa solução para garantir a sua sustentabilidade, certamente já teria “perdido a cabeça” e tomado posições menos ortodoxas.

Esta minha posição resulta do facto do sector cooperativo, o qual lidera a agro-indústria portuguesa, não conseguir dar uma pista sobre quando e como irá melhorar a remuneração do preço do leite ao produtor. O álibi que utilizam é que a culpa reside na distribuição organizada que não valoriza o leite e os produtos lácteos, preferindo aqueles que são importados.

A distribuição tem como estratégia destruir a Lactogal, à qual o Eng. Belmiro de Azevedo apelida de “caixa negra” porque tem peso negocial, não se deixando vergar à estratégia da distribuição organizada, que passa pelo controlo das margens comerciais ao longo de todos os elos das fileiras, tendo como objectivo obterem as melhores margens ou utilizá-las como média que melhor optimiza o resultado do negócio.

A solução passa por um pacto de regime, imposto como resultado das acções de protesto dos agricultores nas lojas dos supermercados e hipermercados, que levem a distribuição, o governo e os produtores de leite a sentarem-se à mesa das negociações para equilibrarem as margens comerciais entre os produtos nacionais e os importados.

Por outro lado, o governo através do Ministro da Agricultura e do Primeiro – Ministro não podem deixar que se destrua um importante sector produtivo da economia nacional, que investiu, que se modernizou, que respondeu aos estímulos do mercado, etc., mas que essencialmente necessita de soluções estruturais como por exemplo, um novo modelo técnico económico de produção, com deslocalização de explorações para locais com maior aptidão para diminuir os custos de produção, controlo das margens comerciais da distribuição organizada, etc., soluções estas que são do âmbito das políticas públicas, cuja responsabilidade compete ao governo definir e implementar. O ministro António Serrano não pode assobiar para o lado e motivar os agricultores a reunirem isoladamente com as cadeias de distribuição, tem que co-liderar a solução do problema, chamando todas as partes para uma reunião, a qual só terminará quando houver uma solução mínima que garanta a sustentabilidade da maioria das explorações leiteiras.

Como até esta altura não se vislumbra remédio para a doença que afecta a produção de leite, só me resta assumir que os seus agricultores têm direito à revolta e que na minha opinião não há lugar para uma segunda oportunidade, “comecem-na hoje porque ontem já será tarde!” Façam-na com civismo, escrevam a todos os intervenientes que directa ou indirectamente têm a chave da solução para o problema, definam um prazo curto para as negociações e se tal vier gorado passem à acção, façam-na em todas as frentes. Acabem com este estado de letargia que se vive em Portugal! Os produtores de leite de vaca têm direito a viver condignamente da sua actividade!

José Martino
Agricultor e Engenheiro Agrónomo

Razões para Oposição à Publicação de Normativo Nacional Especifico para a Utilização de Compostos Orgânicos – José Martino


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