Os três Q’s – Susete Matos

A primeira questão que se coloca é: qual o significado dos “três Q’s”?

Representa três palavras que neste texto podemos considerar “palavras chave”, muito presentes quando falamos de produção agrícola, que têm entre si, uma relação por vezes contraditória e não complementar como seria desejável. São elas:

Quantidade

Qualidade

Queda de substâncias ativas

O mundo está cheio de contradições e o que se passa com o mundo agrícola não é exceção.

Por um lado, pede-se aos agricultores que produzam alimentos em quantidade para fazer face ao crescente consumo, sendo para isso necessário uma agricultura intensiva com base no regadio, recorrendo aos fatores de produção mais adequados, apoiada em alta tecnologia e com custos de produção elevados.

Por outro lado, pede-se uma agricultura sustentável com cada vez mais restrições ao uso de produtos fitofarmacêuticos, que tem levado à ”queda” de muitas substâncias ativas. Os problemas fitossanitários são cada vez maiores, o que se traduz numa redução de rendimentos para o agricultor, devido a quebras de produção, em particular na qualidade do produto.

Por seu lado os consumidores exigem cada vez mais produtos de qualidade, limpos de pragas e doenças, isentos de resíduos de pesticidas e devidamente certificados.

Ninguém tem dúvida nenhuma de que assegurar a boa qualidade dos produtos é fundamental, bem como, respeitar as normas de segurança alimentar. Os agricultores fazem o que está ao seu alcance para o conseguir, o que implica muitas vezes o aumento dos custos de produção, em contradição com a constante descida dos preços dos produtos.

Produzir neste contexto, exige o recurso a novas técnicas e também a introdução de culturas melhoradoras.

A Agromais atenta a estas necessidades experimenta novas culturas, sendo um exemplo a cultura do tremoço, que se enquadra nesta filosofia como cultura melhoradora e ao mesmo tempo permite obter um produto com reconhecido valor nutritivo e até preventivo de algumas doenças. Numa altura em que os hábitos alimentares estão a mudar, verificando-se uma crescente procura de novas proteínas, como alimento de substituição, esta é com certeza uma boa aposta, que para além desta finalidade, pode ainda ser utilizada na produção de um fungicida natural.

Mas para que esta cultura possa ser desenvolvida, é necessário um esforço conjunto com a indústria e ao mesmo tempo com ações de informação ao consumidor sobre as referidas vantagens.

Outro exemplo é o novo projeto denominado MaisSolo, no qual a Agromais entra como parceiro, junto com outras entidades ligadas à investigação, ensino e produção, que se destina juntamente a desenvolver novas técnicas de combate a pragas e doenças de solo, em alternativa ou complementaridade com o uso de pesticidas nas culturas hortícolas. Trata-se da introdução de culturas intercalares melhoradoras, com consociações ou em extreme, que podem, ou não, ser inoculadas e também o uso de “plantas armadilhas”, destinadas a biofumigação.

Com estas técnicas, pretende-se favorecer o desenvolvimento dos microrganismos rizosféricos, importantes pela influência benéfica junto das culturas, ao mesmo tempo que contrariam o desenvolvimento de pragas e doenças.

Este projeto vai introduzir alterações aos atuais sistemas de produção, de forma a alcançar melhorias ao nível produtivo, qualitativo, ambiental e económico.

Com todas as contradições referidas, os desafios que se colocam aos produtores são constantes. O papel das organizações e dos técnicos que delas fazem parte, é, em conjunto com entidades, empresas do setor e organismos ligados à investigação desenvolverem ações que possam ajudar na resolução dos crescentes problemas, que contrariam as referidas exigências de produzir quantidade com qualidade.

Susete Matos

Departamento Técnico da Agromais C.R.L


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