Com o milho silagem guardado no silo, aproveitei o final da manhã de ontem para ir buscar uns rolos de erva (rolos de fenosilagem, plastificados) a um campo distante, a “Bouça Aberta”. Durante a viagem de quase 4 km, viajei também no tempo 40 anos e recordei a altura em que o meu pai comprou esse campo no meio de bouças. Nessa altura, estes tratores, o Massey Fergusson 265 e o Fordson 45 eram as máquinas disponíveis para fazer a silagem e tudo o resto.
O Massey Ferguson cortou silagem quase 20 anos, primeiro com uma máquina Krone, depois com uma Claas Jaguar 25. A referência dos modelos automotrizes da mesma marca que agora se usam já vão nas sérias 800 e 900. Cortam num dia aquilo que demorávamos um mês a ensilar. Só esse campo com 2 hectares levava uma semana. A partir dos 9 anos, ajudado pela minha mãe no primeiro ano, eu conduzia o trator a ensilar com máquina e reboque enquanto o meu pai transportava com o Fordson. Usávamos dois reboques com capacidade para 4000 kg cada (em 1990 passámos para 5000). Depois de ter o reboque cheio ainda tinha tempo de apanhar castanhas nos castanheiros das beiradas do campo, que guardava na caixa de ferramenta do trator, para depois assar nas noite seguintes no fogão a lenha. Debaixo dos castanheiros também almoçava o farnel ou comia a merenda, enquanto esperava que o meu pai voltasse da viagem do campo ao silo, demorada ainda pelo trabalho de espalhar a silagem ao gancho e calcar com o mesmo trator. Tratores que, não tendo tracção dupla, enterravam no silo com muita facilidade. O que a gente andou até aqui! O trabalho era mais duro, mais difícil e menos produtivo, mas mais bem pago e muito menos criticado.
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.