As Contas Económicas da Silvicultura 2020, publicadas pelo INE – Instituto Nacional de Estatística em 2022, confirmam que os condicionamentos gerados pelo Covid-19 afetaram volumes e valores de produção. A exceção vai para a madeira para energia. As contas internacionais conseguiram também manter-se com saldo positivo.
A produção de bens e serviços silvícolas decresceu em 2020, em Portugal, revelam as Contas Económicas da Silvicultura 2020. No total, desceu perto de 7,2%, de 1,32 para 1,23 mil milhões de euros, acusando quebras tanto na cortiça, como nas madeiras para serrar e para triturar, nos serviços e nas atividades secundárias relacionadas com o sector.
Publicadas no verão de 2022, as Contas Económicas da Silvicultura revelam o decréscimo de vários indicadores que se conjugam para um Valor Acrescentado Bruto (VAB) abaixo do registado em 2019: diminuiu 6,5% em volume e 8,5% em valor, saldando-se em 817 milhões de euros, o que confirma uma tendência que já vinha a registar-se desde 2015.
As Contas Económicas da Silvicultura antecipam ainda a balança comercial dos principais produtos de origem florestal para 2021, disponibilizando dados do quinquénio 2017-2021. Neste caso, o saldo entre custos e receitas do comércio internacional manteve-se a crescer: em 2020, situou-se nos 2,4 mil milhões de euros, e, em 2021, os números provisórios indicam que tenha subido acima aos 2,7 mil milhões, um valor para o qual contribuíram em particular as exportações de produtos industriais de origem florestal. Os produtos à base da cortiça continuam a ter o maior excedente comercial, seguidos pelo papel e cartão. Saiba mais aqui sobre as exportações do sector florestal em 2021.
Com base em dados extraídos do Eurostat relativos a 2019 (último ano com informação disponível), as Contas Económicas da Silvicultura divulgam que Portugal estava em nono lugar em termos de importância relativa do VAB da silvicultura e da exploração florestal no VAB da economia nacional (0,4%). Em termos de eficiência, a posição portuguesa é melhor, já que na relação entre o VAB da silvicultura e exploração florestal e a área de floresta, o nosso país ocupava a quarta posição, com um valor de 267 euros por hectare.
Menos produção e valor da cortiça e das madeiras para serrar e triturar
A produção de cortiça registou uma descida de -12,6% de 2019 para 2020, em termos nominais, o que reflete a quebra do volume de produção (-6%) e no preço (-7%). O INE explica, nas Contas Económicas da Silvicultura 2020, que este valor é justificado por dois aspetos: pelas inseguranças trazidas pelo contexto pandémico e também pela menor qualidade da cortiça em 2020, reflexo da diminuição da extração de cortiça de qualidade superior (isto é, de calibre rolhável).
A cortiça, que tinha sido o produto silvícola mais relevante em 2018, perdeu o lugar de destaque em 2019 e não o recuperou em 2020. O seu peso relativo no total das Contas Silvícolas é superado pela madeira para triturar.
Apesar da quebra na produção, a balança comercial internacional de produtos à base de cortiça (como rolhas, materiais de isolamento, calçado, artigos decorativos, entre outros) conseguiu um excedente expressivo em 2020, de 895,3 milhões de euros (939,8 milhões de euros em exportações face a 44,5 milhões em importações).
Quanto à madeira para serrar – utilizada pelas indústrias de paletes e caixas, mobiliário e construção, que têm no pinheiro-bravo a principal matéria-prima –, registou igualmente um decréscimo no volume (-9,6%) e valor (-6,9%).
De igual forma, a madeira para triturar – principalmente a de eucalipto, utilizada pela indústria de pasta de papel e no fabrico de aglomerados – apresentou um decréscimo em volume (-4,6%) e valor (-5,4%), ainda assim menos acentuado do que aconteceu na madeira para serrar.
Tanto no caso da madeira para serrar como para triturar se verificou escassez de matéria-prima e uma procura superior à disponibilidade de madeira nacional, obrigando a um acréscimo das importações. Isto fez com que o défice da balança comercial da madeira em bruto registasse um decréscimo dos -103,7 milhões de euros, em 2019, para -138,9 milhões de euros, em 2020.”
Nas Contas Económicas da Silvicultura 2020, a exceção vai para a madeira para energia – em que se inclui a produção de pellets, briquets e lenhas tradicionais – que registou uma subida em termos reais (1,3%) e nominais (1,2%) e conseguiu manter um preço relativamente estável (+0,1%). Embora a madeira para energia tenha um peso relativo reduzido (4,5% do valor do sector) esta é uma área em que o crescimento é crítico, já que as boas práticas recomendam a aplicação da madeira em cascata de valor, com a queima apenas recomendada nas etapas finais da “cascata”.
Representatividade do valor de cada área nas Contas Económicas da Silvicultura 2020
% | |
Crescimento das Florestas (variação de existências) | 4,9% |
Madeira de Resinosas para Fins Industriais | 11,4% |
Madeira de Folhosas para Fins Industriais | 23,0% |
Madeira para energia | 4,5% |
Cortiça | 18,4% |
Outros Produtos | 2,2% |
Serviços silvícolas e de exploração florestal | 28,8% |
Atividades secundárias não separáveis | 6,7% |
Fonte: Contas Económicas da Silvicultura 2020, INE (2020), Valores a preços correntes; base 2016
Nos serviços, as atividades de florestação e reflorestação com espécies para rendimento regular – sobreiro, pinheiro manso e eucalipto – têm vindo a registar decréscimos consecutivos desde 2015. Nesse ano, o seu valor era superior a 118 milhões de euros e em 2020 passou a apenas 65,5 milhões de euros. Acompanhando esta queda, também outros serviços (como limpeza e desbastes, corte e recolha de madeira – rechega de madeira – e construção de caminhos) recuaram pelo segundo ano consecutivo, tanto em volume (-6,0%) como em valor (-6,4%), o que já se tinha verificado em 2019.
Mais uma vez, as ajudas reservadas à silvicultura em 2020 decresceram 4,1% face ao ano anterior. Os subsídios ao produto e à produção decresceram 24,5%, ao contrário das dotações relativas a transferências de capital, que aumentaram 10,7%.
Fonte: Contas Económicas da Silvicultura 2020, INE (2020)
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.