João Dinis

Passados três anos após o Fogo Grande de 15 e 16 de Outubro de 2017 – Na nossa Região ainda são mais visíveis os danos na Floresta que a sua recuperação… – João Dinis

Lamentavelmente, em milhares de hectares ardidos, continuamos a ver muitos e muitos milhares de (ex) árvores – sobretudo pinheiros – ainda de pé apesar de amputadas de pernadas e de casca, mesmo de parte do próprio tronco. À média luz do início e do fim do dia, essas (ex) árvores parecem fantasmas esqueléticos a implorar aos céus redenções que não mais chegam. Reacendem-nos, sempre, aquela traumatizante sensação do desastre, sensação forjada em nós, naquela noite que não deveria ter acontecido, pelo Fogo Grande a destruir a Natureza e os teres e haveres. E a matar Gente.

Enfim, desde o solo, tentam medrar – e, em geral, já levam até metro, metro e meio de altura – os pinheiritos da regeneração natural. Os eucaliptos, mais apetrechados e mais ágeis, aceleram a recuperação rapidamente. Aliás, são com eucalipto os maiores e mais frequentes (embora em número globalmente reduzido) projectos de reflorestação que se foram consumando no terreno.

Pelo meio, por encostas e vales, avança a Mimosa, outra “máquina” preparada pela Natureza para se aproveitar das oportunidades que encontra antes e após os incêndios. E a Giesta e as Silvas utilizam à vontade todo o espaço disponibilizado e a luz do Sol também que agora não há as árvores a “pastar” e não há as suas copas a “filtrar” lá do alto…

A cinza dos incêndios é o fertilizante mais geral e eficaz. Apenas três anos depois do Fogo Grande, estão já a formar-se espaços impenetráveis, com Giestas com três e mais metros de altura, com troncos grossos como braços e “tecidas” com tojos e silvados agressivos. É impressionante ! Desta forma, “preparam” já o próximo fogo grande que vai ser rápido e a varrer tudo… Bastas vezes, apenas se lá entra com recurso ao tractor com destroçador a “esmigalhar” e à motosserra a cortar… Mas este tipo de intervenção humana acontece em áreas muito pouco significativas tendo em conta a dimensão brutal do ardido em 2017.

Reflorestar – eis a questão – em respeito por um Ordenamento Florestal mais correcto e em respeito pelo direito de propriedade na Região de minifúndio e pelas Populações.

É sabido que um Pinheiro dá uma tocha de resina a arder e que o Eucalipto dá uma tocha de óleo…Portanto, para evitar estes magnos problemas, haja muita sabedoria e apoios dirigidos para operar a indispensável Reflorestação através de um correcto Ordenamento Florestal – as espécies de novas árvores a plantar, onde as plantar e até como plantar.

Sim, é necessário inverter estes processos de erosão, a alta velocidade, de solos percorridos por Incêndios…é necessário atribuir Ajudas Públicas com prioridade e melhores condições de acesso à Reflorestação para uso multifuncional da nova Floresta…é indispensável impedir milhares e milhares de hectares seguidos com monoculturas florestais para finalidades “cegamente” industriais…

É evidente que a propriedade muito fragmentada do minifúndio dificulta operações de envergadura com reflorestação conduzida. E, de facto, é um grande obstáculo à “gestão activa” das Propriedades Rurais, a falta de Gente no Mundo Rural conjugada com o desânimo e a falta de recursos da maioria dos ainda residentes e proprietários rurais.

Acresce que os continuadamente baixos preços da Madeira na Produção são um e estruturante elemento a pesar muito negativamente na situação.

Aliás, estas circunstâncias – baixos rendimentos, falta de Gente, falta de recursos próprios, falta de dinâmica – vão ser das mais difíceis de ultrapassar e, ainda por cima, estão na base de muitos mais problemas “pesados” que afectam o Mundo Rural.

Por isso, a par de alterações estratégicas na atribuição dos recursos, designadamente dos recursos públicos do Estado (do Governo e mesmo das Autarquias), terá que haver muita sabedoria institucional e prática para colocar vários vectores a interagirem rumo a (outros) fins pré-determinados, Sim, muita sabedoria para se definir e programar estratégias e para se planificar e fazer intervenções no terreno – com eficácia. Isto em processos interactivos, em que, necessariamente, sejam respeitados o direito de propriedade e a vontade dos Proprietários Rurais, dos Produtores Florestais, dos Agricultores e das Populações em geral.

Objectivos estratégicos com prioridade para o social e para o ambiental, para a ocupação dos territórios de forma harmoniosa, para garantir melhor futuro às Gentes Rurais.

Ora, não é assim que têm andado “as coisas” e do lado institucional – Governo – Assembleia da República – Presidência da República – maior parte das Autarquias – parece que não há vontade política para mudar o essencial, o que é muito preocupante.

Mas, a nossa luta vai continuar !

João Dinis

Membro da Direção da CNA, Confederação Nacional da Agricultura

Andam (novos) ventos pela Floresta. De onde vêm eles ? Para onde sopram eles ?… – João Dinis


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