O grupo parlamentar do PCP questionou o Governo sobre a demora na obra para aumentar o armazenamento de água na Burga, a principal barragem de regadio do Vale da Vilariça, em Trás-os-Montes, divulgou hoje o partido.
O projeto de alteamento da barragem da Burga é reclamado há anos num dos vales agrícolas mais férteis de Portugal, mas continua sem calendário para execução, apesar de ter sido aprovado, há mais de um ano, um financiamento de 9,3 milhões de euros, que contempla também a construção da barragem do ribeiro do Cerejal, para alargar o perímetro de rega no bloco norte.
Numa pergunta escrita apresentada na Assembleia da República pelo deputado João Dias e dirigida à ministra da Agricultura, o PCP quer saber “qual é o cronograma previsto para a execução do projeto” e, concretamente, “quando se prevê a atribuição da verba e início da obra”.
Na iniciativa parlamentar, divulgada hoje pela direção regional de Bragança do PCP, o partido pergunta também por outro projeto para reforço do regadio no Vale da Vilariça relativo à criação de mais uma reserva na ribeira de Lassa.
Pede ainda esclarecimento sobre “que medidas estão previstas para a melhoria da eficiência dos regadios” no vale e de que forma será considerada esta zona nas opções estratégicas do Governo para o setor agrícola face à seca.
O projeto do alteamento da barragem da Burga e da construção da barragem do ribeiro do Cerejal está entregue às Câmaras de Alfândega da Fé e Vila Flor, dois dos concelhos do Vale da Vilariça, que se estende ainda até ao município de Torre de Moncorvo.
Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Vila Flor, Pedro Lima, explicou que o projeto está a aguardar “a verificação do cumprimento da Lei Quadro da Água”, que está a ser feita pela empresa privada de consultodoria nas área.
De acordo com o autarca, só depois de confirmada a conformidade é que será possível avançar para as fases seguintes de estudos e elaboração de projetos para concretização da obra.
O presidente da Associação de Regantes do Vale da Vilariça, Fernando Brás, afirmou, em declarações à Lusa, que esta situação se revela como “um ano perdido, que pode ter consequências” na próxima campanha de rega.
Fernando Brás reiterou a urgência de aumentar a capacidade de armazenamento de água, como ficou evidente neste ano de seca, em que as barragens ficaram em níveis “muitos baixos” depois da campanha de rega, que já terminou nesta altura.
A barragem da Burga foi, mais uma vez, a mais problemática, com uma fuga em plena campanha de rega que obrigou a recorrer à reserva estratégica da barragem do Salgueiro.
O regadio do Vale da Vilariça é composto por três blocos servidos pelas barragens da Burga, Santa Justa e Ribeiro Grande e Arco e é o maior do Nordeste Transmontano, com cerca de 800 beneficiários com culturas nos mais de 2.400 hectares já existentes.
O plano que deu origem às barragens existentes começou a ser pensado na década de 1960 pelo chamado “pai” da agricultura transmontana, Camilo Mendonça, que projetou o complexo agroindustrial do Cachão e a maioria das infraestruturas que servem o setor.