Mais do que uma refeição, um pretexto para um dia diferente a usufruir da natureza, à descoberta de novos locais e paisagens. Estes são os grandes “trunfos” de um piquenique na floresta. O convívio – com família ou amigos – permite relaxar e trocar conversas, mas também desfrutar destes espaços e dos recursos naturais ao redor. É o momento de parar para comer e conviver, mas também de passear por trilhos e caminhos, observando fauna e flora com atenção.
Os piqueniques fazem parte dos usos de lazer da floresta, ou seja, atividades que permitem a qualquer pessoa beneficiar dos espaços florestais numa função de recreio. Regra geral, são atividades fáceis de pôr em prática e com pouco impacte na paisagem. No entanto, importa respeitar regras e cuidados, de forma a preservar os ecossistemas, prevenir incêndios e garantir que o local escolhido para o piquenique continue a poder ser usado por todos.
Entre as boas práticas recomendadas, destacam-se, por exemplo, não fazer lume fora das zonas sinalizadas para o efeito, respeitar a fauna local (evitando alimentar os animais que encontrar), não danificar as plantas existentes, fechar bem os contentores do lixo, deixar o local tão limpo como o encontrou e seguir as indicações e regras específicas de cada local. Tenha especial atenção nas áreas protegidas, abrangidas por um código próprio de conduta dos visitantes.
Relembradas as “regras de ouro”, é o momento de partir à descoberta. E a verdade é que, em Portugal, são muitos os espaços florestais que convidam a piqueniques inesquecíveis, em comunhão com a natureza. Muitos deles dispõem de infraestruturas de lazer próprias – como mesas, bancos e contentores –, que tornam estes momentos de lazer mais cómodos, inclusivos e seguros.
Procure um local aprazível na sua região ou parta à descoberta de paisagens mais distantes. Para ajudar a planear o seu próximo piquenique, sugerimos-lhe seis locais a visitar. São cenários que se destacam pela paisagem e valores naturais circundantes, mas que dispõem também de infraestruturas de lazer adequadas a um piquenique inesquecível.
Se a ideia de preparar a cesta de piquenique lhe parece pouco prática, não se preocupe: há alternativas. Na Tapada Nacional de Mafra, por exemplo, é possível encomendar uma cesta de piquenique, pronta a ser desfrutada num dos muitos recantos deste local emblemático, que é “casa” para veados, gamos e raposas, entre muitas outras espécies.
1 – Parque de Merendas da Ponta do Sossego, São Miguel, Açores
Onde o verde da vegetação se cruza com o azul do Atlântico: é aqui que encontramos o Parque de Merendas da Ponta do Sossego, um dos locais mais emblemáticos da ilha de São Miguel para desfrutar de um piquenique em plena natureza.
Situado na freguesia da Lomba da Pedreira, no concelho do Nordeste, este espaço está bem equipado para receber quem procura uma pausa entre caminhadas ou, simplesmente, um momento de lazer com vista para o mar. Não admira, por isso, que seja já tradição ver famílias e visitantes reunirem-se aqui, no fim de semana, para partilhar refeições ao ar livre, aproveitando as estruturas de apoio disponíveis: grelhadores, mesas de piquenique, bancos e caixotes do lixo.
O parque integra um amplo jardim botânico com cerca de 13 mil metros quadrados, distribuído em terraços a diferentes altitudes, onde se podem observar plantas típicas da Macaronésia. Durante o verão, é comum ver o espaço salpicado pelas cores intensas das hortênsias (Hydrangea macrophylla), símbolo da paisagem açoriana, embora se trate de uma espécie exótica, originária do Japão e que está classificada como invasora pelo Decreto-Lei n.º 92/2019 na Madeira, sendo uma ameaça à floresta Laurissilva. Palmeiras, flores variadas e arbustos podados em formas curiosas compõem este espaço, que foi remodelado em 1995.
A fauna também faz parte da experiência: é frequente encontrar aves e alguns gatos de rua, cuja população é acompanhada por organizações locais. O miradouro oferece ainda uma vista panorâmica sobre a costa norte de São Miguel e pontos de referência como a Fajã do Araújo ou a Ponta da Madrugada.
Nas imediações, vale a pena visitar o Centro Ambiental do Priolo e explorar as reservas florestais de recreio da Cancela do Cinzeiro e do Viveiro do Nordeste, ambas com áreas de piquenique, trilhos e coleções notáveis de flora autóctone e endémica da região.
Os piqueniques são uma forma muito popular de usufruir das paisagens açorianas. Um inquérito a visitantes de três parques florestais do Arquipélago (S. Miguel, Terceira e Pico) registou que esta era uma das atividades preferidas durante a época de verão.
2 – Parque Florestal das Queimadas e Levada do Caldeirão Verde, Madeira
Num cenário inspirador, o Parque Florestal das Queimadas, no concelho de Santana, na costa norte da ilha da Madeira, permite-lhe fazer um piquenique rodeado pela exuberância da floresta Laurissilva. Consagrada como Património Mundial Natural pela UNESCO, a floresta Laurissilva é um reduto de biodiversidade, com espécies únicas do mundo.
A paisagem é marcada por exemplares de til (Ocotea foetens), urzes centenárias (Erica platycodon subsp. maderincola), pau-branco (Picconia excelsa) e uveira-da-serra (Vaccinium padifolium), espécies lenhosas características da flora Laurissilva.
A fauna complementa o cenário, com destaque para as aves: é possível avistar o endémico bis-bis (Regulus madeirensis), o pombo-trocaz (Columba trocaz), a manta (Buteo buteo harterti), a lavandeira (Motacilla cinerea schmitzi) e o tentilhão da Madeira (Fringilla coelebs maderensis).
O parque integra também a emblemática Casa das Queimadas, que preserva a traça tradicional das casas de Santana, com o seu característico telhado de colmo.
Aproveite as condições e infraestruturas existentes na área recreativa do Parque Florestal das Queimadas, como apoio ao seu piquenique. Com mesas e bancos de madeira, instalações sanitárias e uma envolvente verdejante, o espaço convida a relaxar, caminhar e observar a vida selvagem.
A partir da Casa das Queimadas, é possível aceder a percursos pedestres como o PR 9 – Levada do Caldeirão Verde ou a vereda que conduz ao Pico das Pedras. Estes são percursos ideais para quem quiser estender a visita e explorar ainda mais a riqueza natural envolvente.
3 – Piquenique no Parque da Penha, Guimarães
No ponto mais elevado de Guimarães, a Montanha da Penha oferece um refúgio natural onde o património ecológico se cruza com a história. É nesta paisagem que se encontra o Parque da Penha, um dos locais mais procurados da região para um piquenique tranquilo entre penedos graníticos, floresta frondosa e vistas únicas sobre o Minho.
Com zonas de lazer, áreas arborizadas e diversas infraestruturas, o espaço é ideal para desfrutar de uma refeição ao ar livre. Além das áreas de merendas, pode encontrar equipamentos de apoio, caminhos pedonais e um ambiente que convida ao descanso.
Um dos pontos altos da visita é a Rota da Biodiversidade da Penha, um percurso pedestre linear com cerca de quatro quilómetros que atravessa habitats florestais, incluindo bosques de folhosas, mosaicos agroflorestais e o louriçal, um habitat de conservação prioritária. O trilho é pontuado por 11 painéis informativos sobre a fauna e flora locais, o que permite aos visitantes conhecer melhor os valores naturais da montanha e a sua importância ecológica.
A biodiversidade da Penha é notável: foram identificadas mais de 320 espécies de flora vascular, na sua maioria nativas, e mais de 120 espécies de vertebrados terrestres. Entre as aves, incluem-se espécies ameaçadas como o bútio-vespeiro (Pernis apivorus), o açor (Astur gentilis), o noitibó-europeu (Caprimulgus europaeus) e o tordo-pinto (Turdus philomelos).
Ao longo da Rota, poderá aproveitar as infraestruturas existentes, como mesas, bancos, ecopontos, suportes para bicicletas e painéis informativos. O mobiliário urbano no local foi produzido a partir da valorização de resíduos de plástico (retidos na ecobarreira do rio Selho), no âmbito do projeto Aqualastic, uma iniciativa que procurou reforçar a sustentabilidade deste espaço de elevado valor ambiental.
Símbolo afetivo para os vimaranenses, que mantêm uma forte ligação a este local e às suas tradições, a Penha é conhecida como o pulmão da cidade e um dos locais mais apreciados para piqueniques rodeados de natureza, com sombra, silêncio e uma paisagem inspiradora.
4 – Mata Nacional dos Sete Montes, Tomar
Em pleno centro histórico de Tomar, a Mata Nacional dos Sete Montes é um convite para um piquenique com sabor a natureza e história.
Com cerca de 39 hectares, esta antiga cerca conventual estende-se desde a baixa da cidade até às imediações do Convento de Cristo, classificado como Património Mundial da UNESCO, e acompanha de longe as muralhas templárias que moldam a paisagem.
Entre jardins geométricos de buxo e zonas de mata frondosa, o parque oferece áreas de descanso, percurso de manutenção e um parque de merendas para desfrutar de uma refeição ao ar livre com tranquilidade. A vegetação é rica e variada, com ciprestes (Cupressus sempervirens), oliveiras (Olea europaea) centenárias, freixos (Fraxinus angustifolia) e medronheiros (Arbutus unedo), entre outros, que dão sombra aos caminhos e criam um ambiente fresco, mesmo nos dias mais quentes.
O percurso conduz o visitante através de vales e encostas arborizadas até ao ponto mais alto da mata, onde se encontram antigos sistemas de rega e tanques históricos, como o Tanque da Cadeira d’El-Rei ou o Tanque Grande, alimentados por nascentes e pelo aqueduto dos Pegões. O destaque vai para a Charolinha, uma torre circular: a curiosa construção, que está isolada no meio da vegetação, foi construída segundo planos do arquiteto renascentista João de Castilho e é um local de visita a não perder.
Outrora espaço de recolhimento e cultivo da Ordem de Cristo, a Mata Nacional dos Sete Montes assume-se hoje como o principal parque urbano de Tomar, ideal para passeios calmos, leituras ao ar livre ou um piquenique entre ciprestes e memórias templárias.
5 – Covão d’Ametade, Serra da Estrela
Em pleno coração da Serra da Estrela, o Covão d’Ametade faz parte do maciço central e apresenta um cenário privilegiado para um piquenique entre formações graníticas e a nascente do rio Zêzere. Situada a cerca de 1.500 metros de altitude, esta antiga lagoa de origem glaciar apresenta uma paisagem marcada por árvores frondosas e pelo curso inicial do rio, que ali começa a ganhar forma.
Além da área mais arrelvada, ideal para o piquenique, poderá encontrar no local (e imediações) vidoeiros (Betula celtiberica), pinheiros-bravos (Pinus pinaster), zimbro-comum (Juniperus communis), carvalho-negral (Quercus pyrenaica), giestas (Cytisus multiflorus) e rosmaninho (Lavandula stoechas). O local dispõe de um parque de campismo e de mesas de piquenique, para uma refeição tranquila em plena natureza.
Este é um dos vários covões (depressões formadas pela ação dos glaciares) desta serra e destaca-se pelo seu solo mal drenado, que permitiu a acumulação de sedimentos e o crescimento de vegetação arbórea. O espaço encontra-se envolvido por três grandes formações: o Cântaro Magro, o Cântaro Raso e o Cântaro Gordo, que devem o seu nome à água que deles brota, e que sobressaem na paisagem pela sua imponência rochosa.
Para chegar ao Covão d’Ametade, siga as orientações na estrada N338, na subida a partir de Manteigas. Lá encontrará um local de piquenique que junta paisagem, património natural e um momento de descanso em ambiente de montanha.
6 – Parque de Merendas dos Castanheiros, Serra do Montejunto, Cadaval
Na encosta da Serra de Montejunto, envolto por uma magnífica mata de castanheiros, o Parque de Merendas dos Castanheiros oferece um cenário aprazível para piqueniques em família, a pouco mais de uma hora de Lisboa.
O parque está localizado entre o complexo da Real Fábrica do Gelo e o Centro de Interpretação Ambiental da Serra de Montejunto, dispondo de um parque de merendas, um pequeno bar de apoio, sanitários e um parque infantil. Aos fins de semana, é frequente ver grupos de visitantes a desfrutar da natureza e a explorar a serra, num ambiente ideal para o descanso e a descoberta da envolvente.
A serra de Montejunto está integrada numa Paisagem Protegida com quase cinco mil hectares e caracteriza-se por um substrato calcário, flora mediterrânica e grande diversidade botânica. Esta envolvente mantém uma rica manta vegetal onde se destacam azinheiras (Quercus rotundifolia), carrascos (Quercus coccifera), castanheiros (Castanea sativa), pinheiros e orquídeas, como a salepeira-grande (Himantoglossum robertianum). Em termos de fauna, a área alberga 75 espécies de aves, incluindo dez consideradas ameaçadas, o que reforça o seu valor ecológico.
Por perto, existe ainda um anfiteatro ao ar livre, frequentemente usado para eventos e workshops temáticos ligados à natureza. Rodeado de biodiversidade, silêncio e vestígios de ocupação humana que remontam ao Neolítico, este parque é um ponto de paragem obrigatório para quem visita a Serra de Montejunto e sonha com um piquenique em plena serra.
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O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.