
Os jacintos de água são uma espécie invasora com a qual os portugueses têm aprendido a lidar. Ao cobrirem a superfície do rio, cortam a luz do sol, o que ameaça outras plantas e espécies marinhas. Agora, um projeto pretende dar uma nova vida a esta planta e mostrar que, nas condições certas, pode ser um produto valioso.
Assente na economia circular, o objetivo do projeto BioComp_2.0 é “dar uma nova vida e valorizar” os jacintos de água. “O controle tinha de ser feito, o jacinto era recolhido, colocado na margem e ficava ali. Ou seja, era biomassa e nutrientes que estávamos a perder e também como ficava junto à margem, quando o leito do rio subia, algumas partes vegetativas eram levadas de novo para o rio, provocando o aumento da infestação”, explica Adelaide Perdigão, coordenadora científica do projeto e responsável de projetos de I&D na Colina Generosa, integrada na New Organic Planet.
Através da compostagem destas plantas, às quais juntavam resíduos da indústria agropecuária e da agroalimentar, foram criados seis tipos de fertilizantes orgânicos que podiam ser utilizados na produção biológica. “Pretende-se apenas valorizar aquele resíduo, não queremos produzir o jacinto de água. É decorrente do processo de controle, fica ali aquela biomassa e nós queremos valorizá-la, não incentivar a proliferação desta invasora”, salienta ainda.
Para desenvolver a sua atividade, o BioComp_2.0, desenvolvido pela Colina Generosa, em conjunto com Instituto Politécnico de Bragança e a Escola Superior Agrária de Coimbra, foi apoiado em 622 mil euros pelo COMPETE 2020, dos quais cerca de 450 mil euros provieram do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Qual é o problema que o projeto BioComp_2.0 pretende resolver?
Na região Centro, que é a nossa zona de ação, estávamos com um grave problema, principalmente no leito do Rio Mondego, onde tínhamos muitos jacintos de água que estavam a cobrir o leito do rio. As entidades públicas são responsáveis por fazer a retirada desse jacinto de água, mas este é colocado na margem e não lhe é dado nenhum destino. Portanto, sendo o jacinto de água uma biomassa que poderia ser utilizada, surgiu a ideia de lhe dar uma utilidade. Foi dessa forma, tentando solucionar um problema que existia, que surgiu a ideia do BioComp_2.0: dar uma utilidade à biomassa de jacinto de água, que era continuamente retirada do leite do rio e colocada na margem.
Quais eram os objetivos do projeto?
Os grandes objetivos do projeto era verificar se era possível fazer compostado a partir do jacinto de água e dar-lhe uma finalidade. A compostagem nunca pode ser feita com uma matéria só, por isso, também era verificar diferentes misturas e verificar qual delas conduziria a melhores resultados. As outras matérias-primas que entraram na mistura eram subprodutos da indústria agroalimentar também da região, que são muitas vezes um problema para as empresas por não saberem que destino lhes dar e esse destino acarreta até custos económicos. Ou seja, no fundo estaríamos a valorizar a biomassa de subprodutos e tentar valorizá-los através do processo de compostagem, [criando] um compostado que, quando adicionado ao solo, melhorasse as propriedades físico-químicas do solo.
Por que motivo decidiram desenvolver fertilizantes?
Outros destinos poderiam ter sido dados ou pensados para o jacinto de água, mas, na Colina Generosa, o nosso foco é sempre o desenvolvimento de produtos ou de práticas agrícolas sustentáveis e a problemática da falta de nutrientes ou da baixa fertilidade dos nossos solos, que é evidente. Então a ideia foi: por que não utilizar aquela biomassa que já sabíamos que seria rica em nutrientes para depois aplicá-la no solo.
Testaram os fertilizantes de jacinto de água?
Foi feito um ensaio à escala laboratorial. O processo de compostagem foi todo feito nas instalações da Escola Superior Agrária de Coimbra. Depois os diferentes compostados resultantes das diferentes misturas foram testados, misturados com o solo, colocados em vasos, onde se observou a produção de alface e conduziu a bons resultados, [mas] há algumas diferenças mesmo entre as misturas dos compostados obtidos.
Que novidades estão a desenvolver no novo projeto BioComp_3.0?
Passámos de uma escala laboratorial para uma macro escala. Inicialmente, éramos só três parceiros no BioComp_2.0, a Colina Generosa era a líder e tínhamos a colaboração da Escola Superior Agrária de Coimbra e do Instituto Politécnico de Bragança. No BioComp_3.0, que está quase a terminar, passámos para uma escala maior, ou seja, já entrou uma empresa de compostagem e foram eles os responsáveis por todo o processo de compostagem. Depois também passámos de ensaios para o campo para avaliar o efeito do compostado na cultura e nas propriedades do solo. Passámos de uma escala laboratorial feita em vasos para uma escala de campo e com maior diversidade de culturas, enquanto no BioComp_2.0 só verificámos o efeito na alface, no BioComp_3.0 abrimos o leque de culturas: o amendoal, pastagem, pomares. Para além disso, verificarmos tanto em estufa como em ar livre.
Portanto, diversificámos as culturas e diversificámos também as condições de solo e clima, porque estes ensaios foram feitos em diferentes regiões geográficas, que vão desde o Alentejo até Bragança.
Como vai ajudar a tecnologia de identificação de jacintos de água que estão a desenvolver?
Temos uma atividade em que estamos a fazer um plugin para que, através de imagens de satélite, consigamos identificar onde há manchas de jacinto de água nos leitos dos rios. Em vez das equipas fazerem este controlo e terem de se deslocar ao local, aquilo que estamos a tentar montar é um plugin que, através de imagens satélites, conseguimos acompanhar o desenvolvimento do jacinto no leito, de forma a ser mais fácil identificar se temos uma mancha naquela zona, vamos retirar.
Como vão disponibilizar a informação sobre os jacintos de água?
Vai ser numa aplicação que está a terminar e vai ser disponibilizada. No fundo, reúne toda a informação necessária, porque sendo o jacinto de água uma planta invasora, não é manipulável facilmente, nem todos a podem manipular e temos de ter sempre licenças das entidades competentes, nomeadamente do ICNF, sempre que fazemos o transporte, sempre que vamos ao leito do rio buscá-los e transportá-los para a empresa que fez a compostagem. Portanto, essa aplicação vai mostrar todo o processo de forma a facilitar para quem o queira fazer, porque a ideia também é partilharmos os procedimentos para que a compostagem não tenha de ser feita numa empresa de compostagem, mas que possa ser deslocalizada e que um agricultor com interesse, possa pedir autorização, ir buscar o jacinto e com os resíduos que tem, possa fazer esta compostagem e aplicar nos seus solos.
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