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PM de Cabo Verde diz que investimento em barragens só deu para encher duas

A construção de nove barragens na governação do PAICV voltou hoje ao parlamento cabo-verdiano, com o primeiro-ministro a acusar o maior partido da oposição de gastar 39 milhões de euros para apenas duas terem água.

“O grande problema e que nós sempre criticámos não é a obra em si, é o facto de terem optado por uma política de industrialização, até porque acho que eram muito mais, 17. Ainda bem que pararam nas nove”, criticou Ulisses Correia e Silva (Movimento para a Democracia), no debate mensal com o primeiro-ministro na Assembleia Nacional, na Praia, neste caso dedicado ao “desenvolvimento rural”.

Segundo o primeiro-ministro, durante a governação do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, 2001 a 2016), foram investidos 4.400 milhões de escudos (39,2 milhões de euros) na construção de nove barragens, com “uma derrapagem de 639 mil contos [639 milhões de escudos, 5,7 milhões de euros]”.

“E hoje, depois destas chuvas, que caíram, e caíram relativamente bem, temos: barragem de Poilão sem água, Principal está com boa água, Flamengos sem água, Figueira Gorda sem água, Saquinho 20% de água, Faveta entre 40 a 50% de água, Salineiro sem água, Banca Furada, obviamente, sem água, e Canto Cagarra com água e boa água. Estamos a falar de 4,4 milhões de contos e estamos a falar de nove barragens, duas apenas com água”, enumerou.

Após quatro anos de seca severa, Cabo Verde tem assistido desde julho a vários dias de chuva, com a perspetiva do melhor ano agrícola nos últimos cinco, segundo as autoridades locais.

Durante o debate de hoje, o deputado e líder parlamentar do PAICV, João Baptista Pereira, acusou o Governo de engavetar o projeto das barragens desenvolvido pelo partido, que defende ser uma alternativa aos períodos cíclicos de seca em Cabo Verde.

“Tudo a correr, investimentos massivos, depois com resultados que nós estamos a ver. Este Governo fez investimentos, sim. Desassoreando algumas barragens, nomeadamente Poilão, que exigiu milhares de contos, a adução de água à Faveta, Saquinho e Figueira Gorda”, acrescentou Ulisses Correia e Silva, reconhecendo, ainda assim, o sucesso da barragem Principal, no concelho de São Miguel, ilha de Santiago.

“Infelizmente é a única barragem que está com água”, afirmou o primeiro-ministro.

Já o líder do PAICV, Rui Semedo, afirmou que “ninguém pode negar” que o partido “investiu fortemente no mundo rural” durante a sua governação.

“Temos quatro barragens com água neste momento. Saquinho, Faveta, Principal e Canto Cagarra. Só disse duas. Fale a verdade, pelo menos. O grande problema é que aquela água está a ser utilizada”, criticou Rui Semedo, dirigindo-se ao primeiro-ministro.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Nacional de Cabo Verde chegou a ser criada em 2019 para tentar apurar responsabilidades e eventuais atos de gestão danosa na construção de três barragens para armazenamento de água naquele arquipélago, que não funcionam corretamente.

De acordo com a resolução parlamentar que criou esta comissão os deputados pretendiam averiguar o processo de construção das barragens da Furada (ilha de São Nicolau), Salineiro (ilha de Santiago) e Canto Cagarra (ilha Santo Antão), que “apresentam problemas técnicos”.

Algumas dessas barragens foram construídas por empresas portuguesas ao abrigo do programa governamental de Energias Renováveis, Ambiente e Mobilização de Água, financiado com 100 milhões de euros por uma linha de crédito de Portugal.

O programa do Governo do então primeiro-ministro José Maria Neves (PAICV, atualmente Presidente da República) tinha como objetivo a mobilização de água e a modernização da agricultura, prevendo a captação de 9.352.080 metros cúbicos por ano de águas de escoamentos superficiais, subsuperficiais e subterrâneas, que corresponderiam a uma disponibilização média de 31.174 metros cúbicos por dia para apoiar atividades agropecuárias no meio rural.


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