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Poças Martins alerta que Convenção de Albufeira “não é uma garantia” no combate à seca

O secretário-geral do Conselho Nacional da Água alertou hoje que a Convenção de Albufeira “não é uma garantia” no combate à seca em Portugal e defendeu que é “uma ilusão” pensar que mais barragens são a solução.

Em entrevista à Lusa, Joaquim Poças Martins salientou que “a seca não é o problema” mas sim a escassez de água e avisou que o caminho é “aprender a viver com menos água”, “aproveitar melhor” a que existe, porque “missas e rezas” não fazem chover mais, reutilizar e dessalinizar a água.

Na segunda-feira, cerca de três mil agricultores das províncias de León, Zamora e Salamanca exigiram que se encerre a libertação de água para Portugal no âmbito do acordo de Albufeira, em virtude do qual as duas maiores albufeiras da Bacia Hidrográfica do Douro terão de ceder a Portugal mais de metade da água que têm atualmente nas albufeiras.

O acordo, assinado em 1998, estabelece medidas de cooperação, proteção e aproveitamento sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas partilhadas por Espanha e Portugal, nos rios Douro, Tejo, Minho e Guadiana.

“Há seca em Portugal e em Espanha e, em última análise, ninguém pode reclamar pelo facto de não chover, não há a quem [reclamar]”, começou por referir o também ex-secretário de Estado do Ambiente do último Governo chefiado por Cavaco Silva.

“Neste contexto, de seca, a Convenção de Albufeira não é nenhum seguro, nenhuma garantia, porque se Espanha não tiver água para dar, não dá”, avisou, lembrando que o acordo entre Portugal e Espanha prevê um regime de exceção no caso de anos hidrológicos em que não seja atingido o mínimo de hectómetros cúbicos de água armazenada nas albufeiras espanholas estabelecidos pela Convenção de Albufeira.

Questionado sobre se a construção de mais barragens em Portugal, uma das soluções apontadas, é viável, Poças Martins recusou ser esse o caminho a seguir: “As barragens também são uma ilusão. Não adianta fazer barragens que não enchem”, respondeu.

“O modelo de desenvolvimento que Espanha seguiu, e que alguns acham que Portugal também o devia ter feito, levou à construção, no tempo de Franco, de muitas barragens. Espanha resolveu artificializar os rios, construir muitas barragens (…) partindo do principio de que aquela água era absolutamente garantida”, disse.

Mas, continuou, “não era [garantida] e criou uma ilusão de abundância, que não é verdade, as barragens garantem o abastecimento de água mas não o garantem para sempre, como agora se vê”.

Aliás, disse, “se Portugal tivesse tantas barragens como Espanha estavam também vazias, portanto a solução não passa por elas”.

Poças Martins defendeu que Portugal “tem que se adaptar” à nova realidade, que é a de que “há menos água e vai haver cada vez menos devido às alterações climáticas que originam cada vez menos chuva”.

O ex-governante apontou soluções, salientando que algumas são caminhos que não existiam à data da Convenção de Albufeira.

“Quando se assinou a Convenção, a solução era a chuva. Missas e rezas podem ser feitas mais isso não vai fazer chover mais. A reutilização é solução, a dessalinização é solução, gerir bem é solução”, enumerou.


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