Talvez acossado por muitas manifestações realizadas e programadas, o Ministro da Agricultura saiu de trás do biombo (onde, avisadamente, o Dr. Carlos César desejava que ficasse até às eleições) para dar uma entrevista ao Jornal de Negócios fazendo um conjunto de afirmações que ofendem agricultores, dirigentes agrícolas, funcionários do IFAP e todos os que o antecederam no cargo que ocupa.
Incapaz de cumprir prazos no PRODER ou no controlo e pagamento das ajudas do RPU, também não é capaz de assumir que falhou. Pior, não consegue fugir às responsabilidades sem deitar as culpas para cima de outros e colocar um clima de suspeição sobre todo o sector, falando nesta entrevista de novas “exigências” para “garantir que o dinheiro não vai para jipes nem apartamentos no Algarve”, tal como no passado recente falou das “piscinas” na electricidade verde ou dos “subsídios para não produzir” sempre que se perguntou por atrasos no RPU. Não há memória de um ministro que tantas vezes tenha prejudicado tanto a imagem dos agricultores.
Há que reconhecer que não é fácil ser ministro deste sector num Governo que escolheu como prioridades a Banda Larga, o Magalhães, Inglês na Escolas, novas tecnologias, Quimonda… mas onde o Primeiro-ministro nunca levou a agricultura como tema de debate para a Assembleia da República. Contudo, se “tivesse vocação” e mais respeito pelos agricultores, o Ministro podia defender-se sem golpes baixos que o prejudicam e a todo o sector. Quantos agricultores são precisos numa manifestação para ser válida? Qual é o limite de ajudas que um dirigente agrícola pode receber para ter direito a falar numa manifestação?
Incapaz de assumir que passou três anos sem apoiar a instalação de jovens agricultores, vem agora anunciar a subida do prémio à instalação. Quantos jovens já se instalaram no Proder, com projecto de investimento? Quantos projectos foram aprovados a produtores de leite?
Em Maio de 2008, quando o preço do leite já estava em queda, o Ministro ainda teimava que o preço tinha subido, por comparação com 2006. Agora, com os preços mais baixos em 20 anos (e vários cêntimos abaixo dos valores de Maio, referidos no Jornal de Negócios), continua, atrasado, a prever apenas a desistência dos pequenos produtores. Fará o Ministro alguma ideia de quantos produtores de média e grande dimensão estão em risco de insolvência? Da percentagem de produção que representam? De quantos meses poderão os outros produtores aguentar recebendo abaixo dos custos de produção? Já mandou fazer algum levantamento da situação? Não sabe ou não quer ver?
Porque é que os produtores da Galiza, à semelhança de outras regiões de Espanha, vão receber imediatamente uma ajuda de 12 milhões de euros (num total de 20 milhões) e os Portugueses tem apenas uma promessa para o próximo ano de 6 milhões? Porque é que o Ministro Português da Agricultura não assinou a carta de oito colegas europeus a pedir a suspensão do aumento da quota leiteira?
A agricultura portuguesa já tem problemas que cheguem. Não precisa de um Ministro que piora a situação cada vez que se tenta defender “atacando” as organizações agrícolas e nos faz gastar tempo com estas guerras que vão exigir anos de trabalho para recuperar a imagem da agricultura na sociedade. Um pouco de silêncio até ao fim do mandato era boa ideia…
Carlos Neves
Jovem agricultor