Portugal acaba de perder 16% da Serra da Estrela, “milhares de pessoas foram colocadas em risco”: o fogo e o que falhou

Começou tudo pela subvalorização inicial da orografia do terreno e da evolução das condições meteorológicas expectáveis. A partir daí, piorou ainda mais: “Portugal não aprendeu com os erros de 2017”

Augusto apoia-se na bengala e, resignado, fita o horizonte que, de uma semana para a outra, mudou. “Isto era muito diferente, era uma paisagem verdinha, era agradável para os animais pastarem e agora estamos relativamente de luto. Vai demorar anos para a natureza recuperar.” Augusto é pastor, atrás dele cinco cabras percorrem a encosta do Vale Glaciar do Zêzere, em Manteigas, à procura do pouco que sobrou após os fogos que atormentam o coração da Serra da Estrela desde 6 de agosto e que já destruíram 16% do Parque Natural.

O relógio estava nas 03:18 quando tudo começou naquela madrugada de 6 de agosto. Cerca de 90 operacionais e sete meios aéreos foram enviados para a encosta leste da Serra da Estrela, onde um incêndio lavrava num terreno de extrema dificuldade de acesso. Durante as primeiras horas, as chamas pareciam estar a crescer de forma controlada, com o vento a desempenhar um trabalho favorável para as afastar da povoação mais próxima, a freguesia de Vila do Carvalho. Mas 24 horas depois, com a subida da temperatura e a mudança da direção do vento, começaram a surgir os alertas, com o fogo a progredir para dentro do Parque Natural da Serra da Estrela, na zona de Verdelhos.

A intensidade das chamas só levou a um reforço substancial dos operacionais quatro dias depois, quando o número de efetivos cresceu para cerca de 1.400. “Este reforço deveria ter sido feito de imediato, é claro”, diz à CNN Portugal o comandante dos Bombeiros Voluntários de Cabo Ruivo, Jorge Mendes, acrescentando que o aumento deveria ter acontecido mal o combate às chamas tivesse passado à fase do ataque ampliado, ou seja, após os primeiros 90 minutos de intervenção desde o despacho do primeiro meio de ataque inicial. “Pessoalmente, achei extremamente tarde este reforço de meios, devia ter acontecido mal verificada a dimensão das chamas naquela orografia e perante a impossibilidade de colocar homens no terreno. Era uma zona de pinhal mas rochosa e o incêndio tem tendência em encaixar em vales de muito difícil acesso. De um momento para o outro basta uma rajada de vento para ganhar uma nova dimensão.” Naquele momento eram nos meios aéreos que os bombeiros e a população local depositavam as esperanças para extinguir o incêndio. Só que, ao raiar da manhã do dia 9 de agosto, uma coluna de fumo espesso invadiu a encosta de Verdelhos cegando a visão dos pilotos. Um helicóptero foi mesmo obrigado a aterrar de emergência após registar um problema técnico.

Por esta altura a Serra da Estrela já ardia há cinco dias e as atenções da Proteção Civil viravam-se para um triângulo entre as localidades do Sameiro, Vale da Amoreira e Manteigas. Só em Manteigas, para onde as chamas se tinham propagado nas primeiras 48 horas, o autarca garantiu que pelo menos mil hectares do território do município eram agora cinza, criticando a gestão dos meios. Também de Guarda e de Gouveia delinearam-se ataques ao poder central. “Temos muitas dúvidas relativamente às medidas que foram tomadas e ao momento em que foram tomadas”, referiu o presidente da Câmara da Guarda, Luís Tadeu. Já o autarca de Gouveia disse haver falta de meios: “Nós não vemos mais meios a serem colocados no local. Já pedimos esse reforço a todos os patamares sob pena de assistirmos a uma tragédia ainda maior. Há falta de coordenação.” Era o sexto dia e noite de combate às chamas na Serra e no […]

Veja a reportagem na CNN Portugal.


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