Os incêndios florestais no Canadá estão ainda longe de estar controlados. A situação de alarme começou na semana passada com os fogos em grande parte do Norte do Canadá ocidental devido a condições invulgarmente quentes e secas. As chamas estão a consumir centenas de milhares de hectares de floresta e mato e a obrigar milhares de pessoas a abandonar as suas casas. Esta segunda-feira, segundo o jornal diário britânico The Guardian, mais de 25 mil residentes em três províncias já tinham sido retirados da região por causa de dezenas de incêndios florestais que continuam activos e afectam a qualidade do ar em partes do Canadá e dos EUA.
“A maior parte dos residentes retirados era de Manitoba, que declarou o estado de emergência na semana passada. Cerca de 17 mil pessoas foram retiradas até sábado, juntamente com 1300 em Alberta. Cerca de 8000 pessoas em Saskatchewan foram realojadas, tendo os dirigentes locais afirmado que o número poderia aumentar”, refere o The Guardian, adiantando que “no domingo, o fumo estava a reduzir a qualidade do ar e a visibilidade no Canadá e em alguns estados dos EUA ao longo da fronteira”.
“A qualidade do ar e a visibilidade devido ao fumo dos incêndios florestais podem variar em curtas distâncias e podem variar consideravelmente de hora a hora. À medida que os níveis de fumo aumentam, os riscos para a saúde aumentam”, referiu a agência de segurança pública de Saskatchewan no domingo, citada pelo diário britânico.
O tempo quente e seco tem ajudado os incêndios a crescer, fazendo com que ameacem várias comunidades, e os recursos para combater os fogos e apoiar as populações não têm sido suficientes para dominar a situação.
“Precisamos manter a calma”
“Precisamos de manter a calma”, disse o chefe do governo (premier) da província de Manitoba, Wab Kinew, numa conferência de imprensa na tarde de sexta-feira. O responsável agradeceu a ajuda proveniente do Quebeque, de outras províncias e dos Estados Unidos, que está a enviar bombeiros para Manitoba. Também o presidente da Câmara de Flin Flon, George Fontaine, disse na sexta-feira de manhã que um relatório meteorológico indicava que era provável que os ventos soprassem o fogo violento para a cidade.
Numa conferência de imprensa realizada no sábado, Wab Kinew afirmou que “os próximos quatro a sete dias são absolutamente críticos, até haver uma mudança dos padrões climáticos e, em última análise, uma chuva torrencial em todo o Norte”.
Em Manitoba, mais de 5000 pessoas foram retiradas de Flin Flon e, no Norte da região, o fogo cortou a electricidade na comunidade de Cranberry Portage, obrigando à retirada de mais residentes no sábado.
“O incêndio que assola Flin Flon começou há uma semana perto de Creighton, Saskatchewan, e rapidamente saltou a fronteira para Manitoba. As equipas têm-se esforçado por o conter. Os bombardeiros de água têm estado intermitentemente em terra devido ao fumo intenso e a uma incursão de drones”, refere o The Guardian.
“É difícil para toda a gente”, disse à Reuters na sexta-feira o técnico de manutenção escolar Richard Korte, que fugiu de Flin Flon, um centro regional de 5000 habitantes na fronteira entre Saskatchewan e Manitoba, para Winnipeg, e que se perguntava onde é que a sua família iria dormir nessa noite. As províncias ocidentais vizinhas de Saskatchewan e Manitoba declararam ambas o estado de emergência para fazer face à propagação dos incêndios, que atingiam, nessa altura, sobretudo zonas remotas e pouco povoadas.
As tóxicas rondas de fumo
Os fogos estão a afectar de forma grave a qualidade de ar localmente, mas também em outras regiões, nomeadamente em algumas partes dos EUA, como no Dacota do Norte e em pequenas áreas do Montana, Minesota e Dacota do Sul. Citado na notícia do The Guardian, Bryan Jackson, meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos, afirmou: “Devemos esperar que pelo menos mais duas rondas de fumo canadiano cheguem aos EUA durante a próxima semana.”
Foram abertos centros de acolhimento à população que foge dos incêndios e também há já hotéis apinhados de refugiados dos incêndios, turistas, e empresários que participavam em congressos.
Os líderes indígenas de Manitoba disseram no sábado, numa conferência de imprensa, que os quartos de hotel nas cidades onde os residentes resgatados estavam a chegar estavam cheios. Kyra Wilson, da Assembleia dos Chefes de Manitoba, afirmou que se tratava de uma das maiores evacuações na província desde a década de 1990 e apelou a mais recursos para acolher os residentes.
“É muito triste ver as nossas crianças a terem de dormir no chão. As pessoas estão sentadas, à espera nos corredores, à espera lá fora, e neste momento só precisamos que as pessoas se unam. As pessoas estão cansadas”, afirmou.
Na sexta-feira, Chris Schultz estava sentado na cabina da sua carrinha com a sua cadela, Stella, e esperava vislumbrar os amigos e familiares que chegavam a um abrigo temporário de emergência dentro de um pavilhão de hóquei em Winnipeg. Dentro do centro, o seu amigo Korte estava a tentar arranjar alojamento para a sua família, incluindo o seu filho deficiente que precisa de apoio especial e não pode ficar num pavilhão.
As pessoas das comunidades indígenas do Norte estão a fugir à medida que os incêndios se aproximam e as suas poucas rotas para o Sul ficam cortadas. Algumas comunidades retiraram as pessoas mais vulneráveis de avião, mas o fumo fechou pelo menos um aeroporto.
A época de incêndios florestais no Canadá decorre de Maio a Setembro. A pior época de incêndios florestais de sempre foi em 2023, que sufocou grande parte da América do Norte com fumo perigoso durante meses.