Tebboune, que iniciou hoje uma visita oficial de dois dias a Portugal, falava no final de uma reunião com Marcelo Rebelo de Sousa e manifestou-se agradado com o facto de Argélia e Portugal estarem de acordo com “todas as questões internacionais”.
“Falámos da Líbia, do Mali, do Sahel, da Palestina, do Saara Ocidental, da Ucrânia e do que acontece com a Rússia irmã. Concordámos em todos os temas”, afirmou Tebboune, depois de o chefe de Estado português, na intervenção que antecedeu a do seu homólogo argelino, ter criticado a invasão da Rússia (a Argélia tem fortes relações políticas, económicas e diplomáticas com Moscovo) e ter manifestado apoio a Kiev.
“Concordamos em vários temas que foram falados hoje. Tal como Portugal, a Argélia também procura a paz. Queremos resolver a questão do Saara Ocidental”, acrescentou Tebboune, já depois de o Presidente português ter manifestado o apoio aos esforços da ONU para a realização do referendo de autodeterminação do Saara Ocidental, cujo movimento de libertação, Frente Polisário, é apoiado pela Argélia.
No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa nada disse sobre a proposta de autonomia para o Saara Ocidental apresentada por Marrocos, ao contrário do que surgiu no comunicado conjunto da recente 14.ª reunião ministerial da Comissão Mista Portugal/Marrocos, realizada no passado dia 12 de maio em Lisboa, com o Governo português a manifestar o apoio às duas propostas.
Tebboune, segundo os serviços de tradução de árabe para português, reafirmou também o apoio de Argel à edificação de em Estado Palestiniano, com capital em Jerusalém.
“Não há um único ponto em que tenhamos divergências. Na situação internacional, em termos de desenvolvimento, não há quaisquer divergências”, insistiu.
Sobre as relações bilaterais, Tebboune reiterou a vontade comum na renovação dos protocolos de amizade e de cooperação assinados em 2005.
“O diálogo com Marcelo Rebelo de Sousa foi honesto, aberto e reflete a profundidade das nossas relações económicas que, para o futuro, se pretende que permita criar mais parcerias em vários setores, como na cultura, educação, energia, tecnologias, economia inteligente, tecnologias digitais e outras” acrescentou o chefe de Estado argelino.
“Queremos criar parcerias não só baseadas no petróleo”, sublinhou Tebboune.
A visita de Tebboune surge na sequência da realização, na semana passada, em Argel, da 6.ª sessão do Grupo de Trabalho Conjunto de Cooperação Económica Luso-Argelina, em que o ministro da Economia e do Mar português, António Costa Silva, manifestou o desejo de Portugal quintuplicar o investimento na Argélia ao longo dos próximos cinco anos.
Segundo noticiou então a imprensa argelina, Costa Silva afirmou que a Argélia “é uma parceira fundamental e credível num mundo cada vez mais incerto a nível económico e geopolítico” e que Portugal pretende aumentar e diversificar os investimentos na Argélia em vários setores de atividade, tais como obras públicas, finanças, indústria, produção farmacêutica, hidráulica, agricultura, energia e transportes.
Também na ocasião, o diretor-geral da Agência Argelina de Promoção do Investimento (AAPI), Omar Rekkache, referiu que os investimentos portugueses na Argélia “continuam a ser reduzidos” e que “estão longe de refletir a excelência das relações bilaterais” e “os profundos laços de amizade que unem os dois países”.
Até 2022, houve apenas oito projetos de investimento portugueses, apesar de a Argélia contar com cerca de 80 empresas portuguesas no ativo, maioritariamente em setores estratégicos.
Argel insiste, agora, em orientar alguns investimentos portugueses para as indústrias agroalimentar e transformadora, bem como a necessidade de consolidar a dinâmica comercial com Portugal através do aumento das trocas comerciais, que rondam os 450 milhões de euros, volume que Argel e Lisboa reconhecem estar “abaixo do potencial existente entre os dois países”.
A Argélia é o mais importante fornecedor de energia a Portugal, com um volume anual que cobre 40% das necessidades.
Hoje à tarde, o Presidente argelino efetua uma visita à Câmara Municipal de Lisboa, onde o líder da autarquia Carlos Moedas lhe entregará as chaves da cidade, e termina o primeiro dia da deslocação oficial a Portugal com um jantar oficial oferecido por Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio Nacional da Ajuda.
Na quarta-feira, segundo e último dia da visita, Tebboune participa no Fórum Económico Portugal/Argélia, evento promovido pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), tendo, depois, encontros separados com o primeiro-ministro português, António Costa, e com o presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva.
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