Nuno Pereira

Presidente da AHSA: “‘Brexit’ terá efeito disruptivo nas exportações”

Em declarações ao “SW”, o presidente da Associação de Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA), Nuno Pereira, antecipa os eventuais efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia nas empresas agrícolas do Sudoeste Alentejano.

Que impacto pode ter o “Brexit” na actividade das empresas horto-frutícolas do Sudoeste Alentejano?
O Brexit terá inevitavelmente um efeito disruptivo face ao actual paradigma de expedição dos produtos agrícolas com origem no Sudoeste Alentejano. Esta disrupção vai-se manifestar a vários níveis, sejam operacionais, processuais, comerciais e económicos, sendo incerto ainda a que velocidades e intensidades estas mudanças serão notadas.

Ou seja…
Do ponto de vista económico podemos vir a assistir a dois efeitos corrosivos das margens dos negócios agrícolas que actualmente desenvolvem relações comerciais com o Reino Unido: a desvalorização cambial com reflexo nos preços em euros, por um lado, e um ajustamento dos preços em baixa, por via de uma possível retração da economia inglesa. Por outro lado, o potencial desvio de produtos agrícolas produzidos em toda a Europa, fundamentalmente do Sul, que seguiam tradicionalmente para o Reino Unido, para outros destinos alternativos em virtude do “Brexit”, originará um aumento de oferta destes produtos em mercados não tradicionais originando, também por esta via, uma redução dos preços de mercado, não só no Reino Unido, como também nos restantes países da Europa. Outro aspecto a reter e dar particular atenção prende-se com a questão logística, sendo mais ou menos relevante de acordo com a tipologia de produtos expedidos e transportados. A existir um nível de controlo adicional nas fronteiras para diversos tipos de produtos, imaginam-se dias complicados com filas intensas nos pontos de entrada no país, seja por via ferroviária, seja por via marítima. Um terceiro aspecto está relacionado com a eventual necessidade de emissão de passaportes fito-sanitários, aspecto mais relevante, sobretudo no que toca às trocas em sentido inverso, ou seja, do Reino Unido para Portugal, dado que, aparentemente, não se prevê, a este nível, exigências acrescidas na exportação de produtos alimentares de Portugal para o Reino Unido. A meu ver, estes factores terão um efeito regulatório que, potencialmente, poderá tornar alguns modelos de negócio existentes no Sudoeste Alentejano tendencialmente menos interessantes.

Quanto “vale” o mercado britânico neste momento no que aos associados da AHSA diz respeito?
Dos 27 associados da AHSA são poucos os que não exportam para o Reino Unido. No entanto, o peso do mercado britânico varia de empresa para empresa, havendo casos em que representa mais de 50% do negócio, outros casos em que representa consideravelmente menos.

Que estratégia está preparada (ou em preparação), por forma a minimizar os eventuais efeitos negativos do “Brexit”?
A minimização dos possíveis efeitos do “Brexit” pode passar por medidas de curto prazo, mais operacionais, como alinhar novas formas de transporte que garantam um time-to-market mais competitivo ou o recurso a acordos de cobertura cambial, que protejam o negócio de riscos relativos a uma potencial desvalorização da moeda, e de mais longo prazo, mais estratégicas, como sejam a abertura de novos mercados ou reforço da comercialização da produção para outros países da Europa.

Quais são, de momento, os principais mercados de exportação para os associados da AHSA?
De modo geral, União Europeia. Havendo variações de países de acordo com empresas/produtos exportados.

O artigo foi publicado originalmente em Jornal Sudoeste.


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