O Presidente timorense disse hoje que governantes de Timor-Leste e parceiros internacionais deviam “ser julgados” por não terem ainda conseguido resolver o problema da segurança alimentar, na agenda do país há 20 anos.
“Vinte anos depois da independência ainda estamos a falar de segurança alimentar, neste pequeno país de apenas 1,3 milhões de pessoas. Todos devemos ser julgados: timorenses e parceiros internacionais”, afirmou José Ramos-Horta.
“Um julgamento público em que cada um de nós teria que explicar o que andámos a fazer neste país durante estes 20 anos”, sublinhou.
José Ramos-Horta falava, em Díli, no lançamento de um programa de transformação dos sistemas agrícolas e alimentares em Timor-Leste, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e implementado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Com um financiamento de quatro milhões de dólares (3,6 milhões de euros) em dois anos, o projeto, que segue várias iniciativas implementadas pela FAO, destina-se a reforçar a segurança alimentar, a nutrição e a resiliência das comunidades agrícolas em Timor-Leste.
O objetivo é também aumentar a produtividade agrícola doméstica e o rendimento de famílias agrícolas, “adotando uma agricultura positiva para a natureza, nutritiva e inteligente em termos climatéricos, que possa participar na cadeia de valor”, de acordo com responsáveis do projeto.
Em concreto, vai abranger seis mil famílias agrícolas no que toca ao reforço da produção, cerca de uma centena de grupos de agricultores para melhorias da cadeia de valor e duas mil famílias a melhorar o acesso a alimentação mais nutritiva.
Ramos-Horta agradeceu o apoio da USAID e da FAO para esta iniciativa, esperando que o projeto “dê resultados num ano”, com sinais claros de que houve melhorias.
“Não fiquem por identificar desafios que existem. Problemas que temos, ou as causas da pobreza. Sabemos isso. O que precisamos é que nos ajudem a resolver as coisas”, disse.
A vice-administradora adjunta da USAID, Gillian Caldwell, considerou o projeto muito importante para reforçar o setor agrícola de Timor-Leste, com estratégias de formação, capacitação e apoio técnico que ajude a melhorar a produção nacional.
“Ao encorajar a adoção de uma produção nutritiva, climatericamente inteligente, este projeto ajudará a mitigar esses efeitos negativos. Apoiará mulheres grávidas a amamentar e a consumir alimentos saudáveis que as crianças necessitam para garantir um início de vida mais forte”, afirmou.
Caldwell lembrou as pressões globais na segurança alimentar, especialmente depois da invasão da Ucrânia, e referiu que a USAID está a desenvolver programas para responder a estes desafios com apoio que responda de forma imediata.
O responsável da FAO em Timor-Leste, Rajendra Aryal, disse que o projeto está alinhado com as prioridades do Governo, em matéria de reforço da segurança alimentar no país, procurando contribuir para “fortalecer uma produção alimentar sustentável e eficiente”, melhorar ligações aos mercados e acesso a alimentos diversidades e nutritivos.
Ainda na mesma ocasião, e já a pensar nas próximas eleições e na formação do próximo Governo, José Ramos-Horta disse que vai analisar com muito cuidado as propostas para membros do executivo, para evitar a entrada de pessoas sem capacidade nas várias pastas.
“Partidos pequenos, por exemplo, sem recursos humanos, que exigem ministérios. Um a dizer que quer ser ministro da Defesa, mas depois vamos a ver e nem sequer nunca pegou numa fisga”, afirmou.
“É uma vergonha absoluta pessoas incompetentes que temos no Governo e na Administração. E isso tem que mudar”, sublinhou.