Em 2024, embora o número de incêndios tenha diminuído em Portugal, a área ardida foi quatro vezes superior à de 2023. Devido a estes incêndios mais intensos e devastadores, perdemos um valor económico de 67 milhões de euros, pela destruição direta de 38.666 hectares de floresta.
As florestas plantadas de pinheiro-bravo e eucalipto foram as mais atingidas (85% da área ardida), mas a perda destas florestas de produção não é a única consequência dos incêndios: perdem-se também áreas de conservação vitais para a biodiversidade e habitats essenciais para o saudável funcionamento do nosso território.
Depois de Pedrógão Grande, a criação do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais (SGIFR) marcou uma mudança na gestão e combate aos incêndios florestais – um sistema muito aguardado pelos portugueses e visto com muito interesse por outros países europeus do Mediterrâneo, onde o investimento em prevenção não supera o alocado ao combate.
No último ano, Portugal investiu mais de 350 milhões de euros na prevenção de incêndios. Mas para termos resultados duradouros, é preciso mais do que investir — é preciso acelerar a execução da estratégia para a mudança.
Os espaços florestais, que ocupam 69% do território nacional, comportam uma suscetibilidade ao risco cada vez mais elevada. Especialmente a norte do Tejo, a floresta é muito homogénea e acumula uma elevada carga de combustível (ou seja, vegetação facilmente inflamável) que facilita a propagação dos incêndios.
Sendo a estrutura fundiária de propriedades de pequena dimensão, com baixa rentabilidade económica, é difícil a adoção de práticas de gestão sustentável. Muitos proprietários não têm incentivos ou segurança para gerir as suas parcelas individualmente, e muito menos para se organizarem para as gerirem como um todo, o que deixa milhares de hectares à espera de arder.
Na recente Agenda Comum para a Prevenção de Incêndios Florestais, proposta pela WWF Portugal em conjunto com várias entidades, apresentam-se recomendações para um território mais resiliente, viável e gerador de valor.
Ao Governo é apontado um papel preponderante, seja na implementação de políticas que articule agricultura, pastoreio e floresta como atividades complementares na gestão do território para a redução do risco de incêndio, através de incentivos para a renovação de pastagens e de mosaicos agrossilvopastoris. Isto exige um planeamento e atuação eficazes à escala da paisagem, que reconheça o uso multifuncional do solo, salvaguarde ecossistemas e espécies que devem ser protegidas, valorize a produção local e apoie a fixação humana no território rural.
Ao mesmo tempo, a desburocratização do acesso aos fundos e a adequação dos apoios à diversidade de proprietários são igualmente essenciais. No flagelo dos incêndios, o país precisa de uma estratégia coordenada e duradoura, que sobreviva a legislaturas e sirva o bem comum. Só com o envolvimento de todos os setores, dos privados às comunidades, se cria escala para agir e fazer a mudança.
Prevenir incêndios é proteger vidas, mas também preservar e garantir a viabilidade económica e ambiental das áreas florestais e dos demais ecossistemas. A transformação e a gestão do território à escala da paisagem é a forma mais eficaz de assegurar o futuro da nossa floresta – e esse futuro começa nas decisões que tomamos hoje.