A 24 de Junho, na comunicação social, ficou registado mais um despropositado ataque do Ministro da Agricultura contra os Agricultores e as Organizações Agrícolas, no caso contra a CNA e a CAP.
Segundo ele, os Agricultores “estão agora a ganhar dinheiro com as suas produções” e, por isso, “devem produzir mais”.
Quanto à CNA e à CAP, alguns dos respectivos dirigentes, segundo o Ministro, situam-se “na extrema-esquerda” e na “direita retrógrada”.
Bem, já é infeliz hábito do Ministro da Agricultura o vir a público fugir à verdade e atacar as Organizações Agrícolas mais os Agricultores como se estes fossem os seus inimigos principais. Enquanto isso, as políticas agrícolas e de mercados continuam a provocar cada vez mais problemas e o Governo não toma as medidas que se impõem.
Ao contrário do que afirma o Ministro da Agricultura, a Lavoura vive mesmo a pior fase dos últimos 20 ou 30 anos, com os preços em acentuada baixa na Produção ( enquanto não param de subir no Consumidor…).
Ora, as citadas acusações do Ministro da Agricultura provocaram fortes protestos que a comunicação social também noticiou.
Na sequência, a CAP “jurou” estar muito indignada e ameaçou abandonar os trabalhos da Comissão Permanente da Concertação Social – presidida pelo Primeiro-Ministro – onde, na altura, se ultimava o acordo sobre o novo “Código Laboral”, matéria que o Governo tem como (muito) prioritária. Note-se que a CGTP já antes tinha abandonado essas mesmas negociações embora por outros motivos, evidentemente.
Saliente-se que a CIP também então criticou os mesmos ataques do Ministro da Agricultura…
No contexto, o Primeiro-Ministro, por sua vez, veio a público amenizar o caso e assumir que ele próprio iria receber os representantes dos Agricultores. Ou seja, na circunstância, desautorizou o Ministro da Agricultura e assumiu compromissos de diálogo institucional.
Perante a posição expressada pelo Chefe do Governo, a CAP regressou, pressurosa, à Concertação Social prontinha para assinar o acordo do novo “Código Laboral”. Aliás, a CAP voltaria sempre aí, ainda que o Primeiro-Ministro não se tivesse (rapidamente) comprometido a recebê-la em audiência. Como é óbvio, a CIP “convenceria” a CAP a voltar ao rego da concertação social…
Pelo seu lado, a CNA havia já entregue, a 13 de Junho, um “Caderno de Reclamações” ao Primeiro-Ministro conjuntamente com um novo pedido de audiência. Sem resposta até hoje…
A 7 de Julho, o Primeiro-Ministro recebia a CAP em audiência com a promessa de novo encontro para o final do mês.
CNA E FILIADADAS, SEMPRE COM OS AGRICULTORES !
Entretanto, de 17 de Junho a 2 de Julho, a CNA e Filiadas promoveram quatro Concentrações Regionais de Agricultores com máquinas agrícolas, onde sempre se salientou a reclamação – e direito democrático – da CNA também ser recebida em audiência pelo Primeiro-Ministro, aliás em igualdade de circunstâncias com a CAP. Reclamação que se manteve nas outras Concentrações posteriores a 7 de Julho. Ainda sem resposta por parte do Primeiro-Ministro…
Em várias das Concentrações promovidas pela CNA também participaram Agricultores associados em organizações regionais afectas à CAP, as quais, entretanto, estão mudas e quedas obedecendo às instruções da sua cúpula nacional.
Ou seja, num momento particularmente difícil, a CNA e Filiadas estão na rua, Sempre com os Agricultores, na defesa dos seus direitos e interesses. A mui “indignada” CAP está agora “nas encolhas”, enrolada em reuniões com o gabinete do Ministro da Agricultura, depois de ter assinado o acordo do “Código Laboral” tal como conveio ao Governo…
PRIMEIRO – MINISTRO NÃO RESPEITA OS AGRICULTORES E NÃO RESPEITA A DEMOCRACIA
Pelo seu lado, o Primeiro-Ministro não recebe a CNA, logo não recebe os efectivos representantes da Agricultura Familiar que ocupa a grande parte dos Agricultores Portugueses.
Ostensivamente, o Primeiro-Ministro mostra, assim, que não respeita os Agricultores Portugueses – que continuam a apelar para ele – e que não respeita a Democracia.
Enquanto isso acontece, agravam-se os problemas da Lavoura.
CAP DIVIDIDA AGARROU-SE À “BÓIA”…
Mas, é necessário anotar que a CAP se agarrou, com unhas e dentes, a esta “bóia” da audiência com o Primeiro – Ministro, também porque se encontra “rachada” de alto a baixo como bem comprova o resultado das recentes eleições para os seus Órgãos Sociais. Recente está ainda o fracasso associativo da “guerra total” que a CAP desencadeou contra o Ministro da Agricultura, em 2005 e 2006. E, isto, independentemente das razões que alegava ter para exigir, como então exigiu, a demissão do Ministro.
Hoje, a CAP receia vir para a rua lutar contra a péssima situação do Sector, precisamente porque está muito dividida e porque não confia nas suas actuais possibilidades de mobilização e, menos ainda, nos resultados práticos que por aí possa obter.
PRIMEIRO – MINISTRO E CAP SERVEM – SE RECIPROCAMENTE
O Primeiro-Ministro serve-se da CAP para garantir mais “representatividade” ao acordo sobre o novo “Código Laboral”…
A CAP serve-se do Primeiro-Ministro para esconder as suas próprias contradições e fragilidades…
Enquanto isso, repete-se, os Agricultores Portugueses vivem a pior crise dos últimos 20 ou 30 anos.
Enquanto isso, a CNA e Filiadas estão lá, unidas e em acção, na defesa dos direitos e interesses dos Agricultores Portugueses. Na defesa da Democracia !
Efectivamente, há grandes diferenças…
João Dinis
Membro da Direcção Nacional da CNA