Ao comemoraram-se 50 anos de associativismo no Sector Português de Alimentação Animal será oportuno salientar o apoio relevante que o mesmo dispensou para retirar milhões de Portugueses da subnutrição, ao contribuir para lhes proporcionar proteínas de elevado valor nutritivo, decorrente da presença dos nove aminoácidos essenciais em proporções adequadas às necessidades humanas, e de minerais e vitaminas de elevada biodisponibilidade.
Na realidade, após o fim da Segunda Grande Guerra (1945), o fabrico de alimentos compostos para animais de produção (aves, suínos, bovinos) experimentou um incremento notável, por um lado impulsionado pela necessidade de dar um aproveitamento interessante às sêmeas, designadamente de trigo, e aos bagaços de oleaginosas provenientes da indústria de saboaria, e , por outro lado, apoiado nos importantes avanços científicos alcançados no domínio da nutrição animal durante a primeira metade do século XX.
Paralelamente, registaram-se progressos assinaláveis no melhoramento genético animal, na profilaxia (e.g. vacinas, antibióticos) e no bem-estar animal, o que contribuiu também decisivamente para uma melhoria crescente da eficiência alimentar; consequentemente, os custos de produção baixaram e a actividade em causa tornou-se mais amiga do ambiente, pois tem vindo a requerer áreas cultivadas cada vez menores para produzir os alimentos necessários à produção de uma unidade de carne, leite ou ovos. Por exemplo, hoje um frango consome um quarto dos alimentos que há sete décadas eram necessários para aumentar um quilograma de peso vivo.
Concomitantemente, o poder de compra das famílias portuguesas experimentou um aumento crescente e, de acordo com uma tendência universal, o consumo de proteína animal ̶ que em 1945 era insignificante ̶ elevou-se substancialmente até ao presente. De facto, a esmagadora maioria dos Portugueses deixou de comer géneros alimentícios de origem animal apenas em dias de festa e passou a consumir carne, lacticínios e ovos sem restrições, porque trata-se de alimentos saborosos, de elevado valor nutritivo e agora disponíveis a baixo preço.
Paralelamente, no pós-guerra ocorreu um aumento muito expressivo na produção de alimentos vegetais, devido em primeiro lugar à utilização de adubos azotados ̶ fabricados após a descoberta da síntese do amoníaco (NH3) ̶ , os quais representam uma importante fonte nutritiva para as plantas cultivadas, aumentando extraordinariamente a sua produtividade. Estima-se que a aludida descoberta tenha salvado da fome cerca de três mil milhões de pessoas!
Acrescem outros progressos alcançados no domínio da Produção Vegetal, inclusive também no que respeita à fertilização, mas igualmente no que toca à sanidade vegetal, ao melhoramento das plantas, ao regadio e à mecanização agrícola ̶ que libertou muita mão-de-obra da agricultura, a qual se transferiu para os serviços e a indústria : tudo concorrendo para um maior rendimento per capita dos Portugueses e uma maior população escolar!
Os progressos anteriormente mencionados ̶ ocorridos durante as últimas sete décadas no âmbito da produção de alimentos ̶ associados aos avanços científicos alcançados no domínio da farmacologia (antibióticos, vacinas, etc.) e acompanhados por uma melhoria acentuada na salubridade e conforto da generalidade das habitações ̶ água potável (clorada), esgotos, electricidade (frigorífico), etc. ̶ elevaram enormemente a esperança média de vida à nascença e proporcionaram um crescente bem-estar à população portuguesa, tendo-se atingido uma prosperidade sem precedentes.
A nível mundial e em decorrência da aludida evolução científica e tecnológica, nos últimos 70 anos a população triplicou (!), passando de 2,5 para 7,5 mil milhões de pessoas, e vastas regiões foram libertadas da fome e da doença, prevendo-se que a população venha ainda a aumentar nas próximas décadas, exigindo portanto maior produção de géneros alimentícios, tanto de origem vegetal como animal (no passado mês de Março a FAO estimou que o consumo de carne se mantenha estável no mundo desenvolvido e a produção mundial duplique até ao ano 2050 tendo em vista satisfazer as necessidades dos países em desenvolvimento).
A ciência e a tecnologia irão certamente continuar a progredir, nomeadamente em ordem a assegurarem a sustentabilidade ambiental, o que não obsta a que também produtores e consumidores melhorem desde já algumas práticas (e.g. agricultura de precisão, diminuição do desperdício alimentar).
No caso particular do Sector Português de Alimentação Animal, a economia circular tem sido uma constante ao longo do seu desenvolvimento, nomeadamente no que concerne ao aproveitamento de coprodutos e subprodutos da indústria agro-alimentar; adicionalmente os alimentos compostos que prepara apresentam uma digestibilidade cada vez maior (e.g. uso de enzimas) e são formulados em estrita conformidade com as necessidades nutricionais dos animais a que se destinam. Acresce o fabrico de alimentos compostos complementares, que permitem viabilizar a criação de animais em condições de pastoreio nem sempre adequadas a um desempenho zootécnico aceitável e que, de outro modo, ir-se-ia naturalmente assistir à substituição de pastagens por matos. A jusante e também no âmbito da economia circular, importa assinalar o papel que cabe aos efluentes pecuários (estrumes e chorumes), nomeadamente no que respeita ao aproveitamento dos nutrientes vegetais incorporados no solo, com relevo para os macronutrientes principais ̶ azoto, fósforo e potássio ̶ , para além de outros contributos proporcionados pela matéria orgânica, designadamente no que concerne à melhoria da estrutura dos solos e à preservação do ambiente.
Em conclusão, podemos reconhecer que, graças à evolução científica e tecnológica, nunca tantos viveram tanto e tão bem, convindo alargar esta prosperidade a uma população mundial ainda em crescimento, mas tendo em conta que os recursos são finitos, pelo que são grandes os desafios no que tange à sustentabilidade ambiental.
Manuel Chaveiro Soares
Eng. Agrónomo, Ph.D.