Produtores de cereais, leite e fruta alertam para subida dos preços

O comportamento do consumo de cereais na China é “uma incógnita muito grande” e vai ditar os preços mundiais do milho em 2022. No trigo, o sector garante: os preços vão aumentar, mas o abastecimento à indústria está “garantido”.

Milho, leite, trigo e frutas, todos têm em comum estarem sob forte pressão nos custos de produção que terão, avisam os produtores ouvidos pelo PÚBLICO, um efeito inevitável de subida dos preços, num contexto marcado pelo aumento da despesa com energia e por atrasos globais na cadeia logística.

Milho em alerta

Ninguém se iluda: produzir cereais para alimentação humana ou animal está “logicamente mais caro”. “Há adubos que aumentaram entre 70 a 100%”. Em 2021, a conta de cultura do milho, por exemplo, incluindo adubos, herbicidas, combustíveis e energia eléctrica disparou “mais 40 a 50 euros por tonelada” face a 2020.

O alerta é para as empresas industriais e de produção animal e para os consumidores. E vem do presidente da Anpromis – Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo, que diz que o mundo – e Portugal – “beneficiou” na última campanha de “preços interessantes para os agricultores”, mas que “podem ser completamente arrasados”.

A grande maioria do milho produzido em Portugal é para alimentação animal, mas também para a fabricação de farinhas, amidos, leveduras para produção de cerveja ou o fabrico de cornflakes e outros produtos para alimentação humana.

Os contratos de fornecimento são anuais. “Os negócios fazem-se de acordo com a cotação internacional no momento”, explica ao PÚBLICO Jorge Neves, alertando que não é obrigatório que em 2022 o preço do milho aos clientes industriais vá aumentar. Em todo o caso, em Portugal, “estamos totalmente expostos à cotação internacional”, que é ditada “pelos grandes países exportadores”, desde logo os Estados Unidos, o maior exportador mundial, mas também o Brasil, a Ucrânia e a Argentina. “São os chamados big four”.

A produção de milho na América do Sul está a ser semeada desde Setembro, lembra o também vice-presidente da Confederação Europeia dos Produtores de Milho (CEPM), que agrega produtores de 10 países e representa cerca de 90% da superfície de milho semeada na Europa (cerca de 15 milhões de hectares). O empresário agrícola não duvida: “As condições de produção lá já poderão dar uma indicação do que poderão ser os preços”. No entanto, é preciso estar atento à grande produção no hemisfério Norte, principalmente nos Estados Unidos, que “vai ditar o resto”.

Há, porém, “uma incógnita muito grande”: a China. “A China é o grande acelerador de partículas, neste momento, nos mercados”, avisa o presidente da Anpromis. O país de Xi Jinping é o segundo produtor mundial, mas consome mais do que produz, pelo que “o comportamento da China no próximo ano e uma procura maior ou menor que possa imprimir nas aquisições vai ditar muito a formação de preços”. Uma coisa é “certa” para os produtores de milho portugueses: “Os custos de produção vão aumentar; agora se os vamos conseguir repercutir no preço, tudo depende do mercado internacional”.

Portugal importa “75% do milho” que consome, “os barcos chegam consecutivamente a Portugal e isso é que dita o preço nacional”. Os produtores, garante Jorge Neves, não têm “nenhuma margem para mexer no preço”. E o pior é que “existe ainda muita incerteza” quando às cotações a partir de 2022.

“Desespero” no leite

A produção de leite é uma das mais afectadas pela oscilação das cotações do milho. A única certeza com que os produtores se confrontam é o aumento dos preços da alimentação animal. Ao PÚBLICO, o secretário-geral da APROLEP – Associação dos Produtores de Leite de Portugal diz que, só as rações, “aumentaram cerca de 50 euros/tonelada” desde o final de 2020.

Carlos Neves teme o pior: “Espera-se um importante aumento em Janeiro”. Por sua vez, “o milho de silagem no campo é vendido em […]

PÚBLICO -

Continue a ler este artigo no Público.


por

Etiquetas: