Mandioca

Projeto de adaptação climática em Moçambique identificado como exemplo de sucesso

Um projeto em Moçambique que permitiu aumentar a produção de mandioca em 36% e o número de refeições consumidas em 4% é identificado como um exemplo de sucesso num relatório hoje divulgado pela ONU.

Intitulado “2022 – Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo”, o relatório, produzido por várias agências das Nações Unidas, incluindo a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM), conclui que o número de pessoas afetadas pela fome no mundo aumentou em 150 milhões durante a pandemia de covid-19, elevando-se para cerca de 828 milhões de pessoas, e continua a aumentar.

Num capítulo em que defendem o investimento em adaptação climática para ajudar a produzir dietas saudáveis e acessíveis, os autores do relatório lembram que as alterações climáticas ameaçam sobretudo os pequenos agricultores, em particular aqueles que se inserem nas comunidades mais pobres e vulneráveis.

Essa pressão é provocada por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, como secas, tempestades e inundações, bem como por mudanças graduais, como estações chuvosas mais curtas, início tardio das chuvas ou aumento do nível do mar, lê-se no relatório, segundo o qual a adaptação climática está a receber cada vez mais atenção e a tornar-se central para o futuro da alimentação.

A adaptação climática refere-se a mudanças nos processos, práticas e estruturas para moderar potenciais danos ou para aproveitar as oportunidades associadas às mudanças climáticas, mas os pequenos produtores têm difícil acesso ao financiamento climático global.

“Eles carregam as consequências devastadoras das alterações climáticas, solos degradados, insegurança alimentar e migração irregular”, mas até agora “apenas cerca de 1,7% dos fundos investidos globalmente em financiamento climático chegaram aos pequenos produtores”.

O relatório lembra que entre 2019 e 2021, o Programa Adaptação para Pequenos Produtores (ASAP, na sigla em inglês), do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), uma agência da ONU sediada em Roma, investiu cerca de 897 milhões de dólares (881 milhões de euros) em financiamento climático nos países de baixo e médio rendimento e identifica cinco exemplos de sucesso, incluindo o caso de Moçambique.

“O Projeto de Desenvolvimento da Cadeia de Valor a favor dos Pobres nos Corredores de Maputo e Limpopo (PROSUL) visava promover práticas de produção de mandioca, carne e horticultura, além de investir em cadeias de valor do agronegócio inclusivo e organizações de agricultores”, pode ler-se no documento.

Os autores do relatório explicam que, “por meio das práticas sustentáveis promovidas pelo projeto, a produtividade da mandioca aumentou 36% e o número de refeições consumidas também aumentaram 4%. O projeto também ajudou a aumentar a resiliência ao diversificar rendimentos, aumentando assim o número de fontes de rendimento dos beneficiários em 15 por cento”.

Lançado em 2012 com um valor inicial de 30 milhões de euros, o projeto compreende 19 distritos selecionados nas províncias de Gaza, Inhambane e Maputo e visa um aumento sustentável no rendimento dos agricultores que produzem hortaliças irrigadas, mandioca e gado, incluindo bovinos, caprinos e ovinos.

Segundo o relatório hoje divulgado, em 2021 a fome afetou 278 milhões de pessoas em África, 425 milhões na Ásia e 56,5 milhões na América Latina América e Caraíbas.

Segundo o relatório, “os números mostram uma disparidade regional persistente, com a África a suportar o fardo mais pesado: uma em cada cinco pessoas (20,2% da população) passou fome em 2021, em comparação com 9,1% na Ásia, 8,6% na América Latina e Caraíbas, 5,8% na Oceânia e menos de 2,5% na América do Norte e na Europa”.

As estimativas projetam que “cerca de 670 milhões de pessoas ainda enfrentem fome em 2030, ou seja, 8% da população do mundo, que é a mesma de 2015, quando foi lançada a Agenda 2030” (os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável), sublinha o documento.

Apesar de a pior fase da pandemia ter passado, os desafios para acabar com a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de desnutrição continuam a crescer, diz a ONU, que alerta que a guerra na Ucrânia piorou a situação, já que interrompeu grande parte do abastecimento global de cereais e provocou um aumento dos preços quer dos cereais, quer de fertilizantes e energia, produzidos sobretudo pela Rússia.

Ao mesmo tempo, acrescentam as agências, eventos climáticos extremos mais frequentes e severos estão também a interromper o abastecimento de alimentos, especialmente nos países mais pobres.


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