Provedor dos Direitos Humanos timorense questiona onde está a educação

ão estas as perguntas a que devemos responder nestes 50 anos. A nossa educação, o nosso setor da saúde, a nossa agricultura, a nossa economia, onde estão? Infelizmente ainda estamos muito longe. Não porque não temos recursos, mas porque, durante estes 20 anos depois da restauração, gastámos muito tempo na política do poder em vez de na política de desenvolvimento”, afirmou Virgílio Guterres, em entrevista à Lusa.

Timor-Leste assinala em 28 de novembro os 50 anos de declaração unilateral da independência e da ocupação indonésia, em 7 de dezembro de 1975.

A restauração da independência aconteceu em 20 de maio de 2002, depois da realização de um referendo pela autodeterminação em 30 de agosto de 1999.

“Temos de reconhecer as nossas culpas, os nossos pecados políticos. Não vou contar com 24 anos de resistência, foi um período de cristalização, de unificação, de consciencialização entre os timorenses que em 1974 se dividiam em partidos e com o processo unimo-nos para chegar a 1999”, disse o antigo jornalista, que também esteve envolvido na luta contra a ocupação indonésia.

“O nosso problema está desde 1999 para cá. Aquela unidade que gritamos no período da resistência não serviu nada para o desenvolvimento. Os braços que usámos para nos abraçar no período da resistência, nestes últimos 20 anos serviram para dar cotoveladas políticas uns aos outros”, salientou.

Reconhecendo como “boa ideia” criar um Fundo Petrolífero, que desde 2007 já acumulou receitas de mais de 18 mil milhões de dólares, Virgílio Guterres salientou que, neste momento, já se debate o fim do fundo em 10 anos.

“No momento em que discutimos que o fundo vai acabar, ainda temos mais de 50% da população a viver na extrema pobreza, 47% das crianças com menos de 5 anos sofre com má nutrição, a taxa de desemprego está a subir e a prestação de saúde está cada vez mais precária”, disse Virgílio Guterres.

O provedor dos Direitos Humanos não justifica a situação com o facto de Timor-Leste ser um país novo e recém-independente, porque com 20 anos, “biologicamente já é um adulto”.

“Não conseguimos fazer muito na educação, na saúde, na erradicação da pobreza, o que queríamos fazer desde início”, afirmou.

O provedor lembrou também que já afirmou várias vezes que os “direitos económicos, sociais e culturais do povo timorense foram sistematicamente violados pelo Estado”.

“Isso verifica-se na alocução do orçamento. Quase todos os anos”, disse, referindo-se à verba orçamentada para aquelas áreas.

Segundo a organização não governamental La’o Hamutuk, no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2026, os setores-chave como saúde, educação, fornecimento de água e agricultura representam 18% do valor total da despesa do OGE, com um valor global de 2,291 mil milhões de dólares (1,99 mil milhões de euros).

Virgílio Guterres lamentou também a falta de apoio para os jovens, que representam mais de metade da população timorense, que ronda os 1,4 milhões de habitantes.

“Não há investimento. Temos fundos para os veteranos para a terceira idade, mas não temos fundos para as crianças, para os jovens. Tornámo-nos num país em que nos preocupamos mais com a morte do que com a vida, preocupámo-nos em como preparar o caixão e preparar o cemitério, mas esquecemos-nos das pessoas que vão transportar o caixão para o cemitério”, acrescentou.

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