As florestas são os ecossistemas terrestres com maior capacidade de sequestro de carbono, retendo-o nos seus produtos, que podem substituir materiais e energia de origem fóssil. Plantar e cuidar da floresta são ações prementes para mitigar os impactes do aquecimento global decorrente das alterações climáticas.
Desde a Revolução Industrial tem havido um aumento das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), como o dióxido de carbono, o metano ou o óxido nitroso, para a atmosfera. O aumento dos GEE leva à retenção de mais calor do sol na Terra e impede a sua irradiação para o espaço, tendo como principal consequência a alteração dos padrões climáticos do planeta. Perturbações como incêndios, tempestades e ataques de pragas e doenças têm-se tornado mais frequentes e danosas, com particular impacte nas florestas.
Os eventos climáticos extremos, a falha na implementação de estratégias de adaptação e mitigação às alterações climáticas e os desastres naturais estão listados no top 5 das ameaças mais prováveis nos próximos 10 anos, de acordo com o “Relatório Riscos Globais 2019”, do Fórum Económico Mundial. Pelo terceiro ano consecutivo, os riscos ambientais (tanto em termos de impacte, quanto de probabilidade) estão identificados entre os mais preocupantes.
O relatório especial do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) de 2018 alerta que os impactes do aquecimento global podem ser piores do que o inicialmente previsto e que estabilizar o aquecimento nos 1,5°C adicionais (acima do valor pré-industrial, definido como a média do período 1850-1900) pode ser muito difícil. É preciso, sugere o IPCC, retirar cerca de 730 gigatoneladas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera até ao final deste século. Isto equivale a todo o CO2 emitido pelos EUA, Reino Unido, Alemanha e China desde a Revolução Industrial. (1 Gt = 109 ou mil milhões de toneladas = 1000 megatoneladas)
Efeito de estufa
Alterações climáticas: fenómeno antigo ou recente?
As alterações climáticas são fenómenos que ocorrem naturalmente desde a formação da Terra. Nos últimos 1,2 milhões de anos, o clima variou em ciclos de glaciações e interglaciações de cerca de 100 mil anos, devido a variações nas orbitais da Terra (os chamados Ciclos de Milankovitch).
No entanto, o aquecimento global nas últimas décadas está a ocorrer a velocidade muito superior ao que se verificava anteriormente. A sua velocidade e intensidade são demasiadas para que o fenómeno possa ser explicado à luz das mudanças naturais dos parâmetros orbitais da Terra e atividade solar, estando relacionadas com o aumento de gases com efeito de estufa (GEE).
Proteger a floresta é uma prioridade da ação climática
As soluções apontadas para estabilizar o aquecimento global passam por reduzir as emissões de GEE e a utilização de materiais e combustíveis fósseis para metade em 15 anos, eliminar o seu uso em 30 anos e aumentar a área florestada em cerca de 24 milhões de hectares por ano até 2030. No entanto, estas medidas poderão não ser suficientes.
Para maximizar o potencial de sequestro de carbono há que proteger a floresta natural existente e aumentar as áreas de florestas naturais, promover plantações em zonas sem árvores e melhorar a reflorestação e a gestão florestal.
Apesar da dimensão dos desafios, os riscos não são uniformes, nem inevitáveis, e há oportunidades de mudanças a explorar: armazenar mais carbono em florestas e produtos de base florestal (madeira ou cortiça), substituir produtos e materiais de base fóssil, investir em biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
Como salientado no Acordo do Clima de Paris de 2015, as árvores têm um papel crucial na acumulação de GEE na atmosfera, funcionando como sumidouros de carbono. A gestão florestal ativa pode aumentar a resiliência e a capacidade de adaptação a desastres relacionados com o clima. A redução das emissões provenientes de desflorestação e degradação das florestas, a conservação das florestas existentes, a gestão sustentável das florestas e o reforço dos stocks de carbono florestais são vitais para mitigar os efeitos do aquecimento global.
O aumento da área de florestas de conservação e de produção em todo o mundo contribui também para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em termos da produção e consumo sustentáveis (ODS 12), do aumento da riqueza (ODS8), da diminuição da pobreza (ODS1) e da valorização do ambiente (ODS 15).
Ciclo de carbono na gestão florestal sustentável
Fonte: Washington Forest Protection Association
Desflorestação e alterações climáticas
A desflorestação é a segunda causa global das alterações climáticas recentes, depois da queima de combustíveis fósseis, explica o “State of the World’s Forests 2018”, da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. A desflorestação e a degradação das áreas florestais contribuem para a emissão de GEE através da combustão da biomassa florestal, decomposição do material vegetal e libertação do carbono do solo: em termos globais, contribuem com cerca de uma gigatonelada de emissões de carbono por ano.
Os valores desta contribuição para as emissões globais de GEE variam entre os 25% avançados pela FAO em 2005, 25% a 30% revistos em 2006, 17% divulgados no relatório de 2007 do IPCC e 12% revistos num artigo publicado em 2009. A variação nos valores explica-se pela atualização dos dados globais de desflorestação e o aumento das emissões resultantes da queima dos combustíveis fósseis. Este aumento leva a uma diminuição do peso da desflorestação em termos percentuais.
Evolução das emissões de carbono provenientes da desflorestação,
degradação das florestas e das emissões de combustíveis fósseis
1980 – 2008
Nota: As abordagens e conjuntos de dados atualizados estão representados por uma linha contínua, enquanto os desatualizados estão representados com uma linha tracejada.
Fonte: CO2 emissions from forests (2009)
O IPCC estimou que, entre 1750 e 2011, cerca de 555 gigatoneladas de carbono tenham sido libertados para a atmosfera em todo o mundo como resultado da queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) e produção de cimento (70%) e de alterações no uso do solo (30%), principalmente da desflorestação e degradação das florestas. Desde 2010, a percentagem de emissões das alterações de uso do solo tem diminuído e a percentagem relativa aos combustíveis fósseis tem aumentado.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.