A história do fascismo durante o período do Estado Novo é também a história do trigo e do algodão, defende o historiador e professor na Universidade de Drexel, no estado de Filadélfia, Estados Unidos da América. Em entrevista à Renascença, o autor do livro “Porcos Fascistas – Organismos Tecnocientíficos e a História do Fascismo” (ed. Dafne, 2022), diz que Salazar “ocultava as dimensões tecnocientíficas da constituição do regime”.
Enquanto lia o seu livro lembrei-me várias vezes de um chavão da publicidade contemporânea: somos o que comemos. Depois, comecei a pensar em diferentes variações da mesma ideia: que somos os alimentos que produzimos. E que votamos como comemos.
Faz muito sentido. A ideia é essa mesmo: o ato de comer é um ato político e o ato de cultivar também. O que se produz e como se produz é uma base fundamental para qualquer organização social.
Portanto, a agricultura é uma dimensão política fundamental para quem pretenda compreender as sociedades do século XX e do fascismo.
“Porcos Fascistas” é uma análise biopolítica, aos olhos da agricultura e da pecuária, do fascismo de Hitler, Mussolini e Salazar. Há uma história na origem desta investigação?
A minha ideia inicial foi aplicar os métodos da História da Ciência ao fascismo português. Fiz uma tese sobre isso. O momento decisivo, contudo, talvez tenha sido quando tomei a decisão de alargar o estudo além de Portugal. Pareceu-me que era preciso conhecer o contexto alemão e italiano, para dar sentido ao caso nacional.
Nas experiências fascistas dos três países, houve um acentuar da importância da ideologia do solo, da ideologia da terra, da ruralidade. Tendo Portugal como lente, há ainda outra dimensão muito importante: a colonial.
Os três regimes têm muitos paralelismos entre si. Todos tratam a autonomia alimentar como uma questão […]