Quem ganha com alarmismos infundados? – Manuel Chaveiro Soares

Nas últimas décadas, diversos países (incluindo Portugal) experimentaram uma enorme prosperidade, acompanhada por uma alteração demográfica profunda, decorrente do aumento da esperança média de vida à nascença e do concomitante decréscimo do índice de fecundidade.

Surgiram assim sociedades ricas e envelhecidas, de que resultou uma hipersensibilidade ao risco. Criou-se deste modo um campo permeável ao alarmismo, alimentado com o anúncio de sucessivas putativas crises, pandemias e outros perigos. Vejamos alguns exemplos.

Em 1996 eclodiu a crise das “vacas loucas”, amedrontando-se os consumidores com cenários que anunciavam a morte de milhões de pessoas num prazo de dez anos, quando até hoje ainda não se comprovou sequer que o agente patogénico em causa é transmissível aos humanos.

Seguiu-se a crise das dioxinas na Bélgica, em 1999, decorrente de um acidente pontual mas explorado politicamente como muito perigoso, quando até sabemos que o antigo Presidente da Ucrânia foi posteriormente vítima de envenenamento com dioxinas e que hoje aparenta boa saúde.

Depois, em diversos países foram detectados vestígios de nitrofuranos em alimentos, o que em 2003 levou dois governantes portugueses a alertar para a existência de um elevado risco, quando ainda até estava autorizada entre nós a administração de nitrofuranos a uma espécie animal de grande consumo…

Dois anos depois, as autoridades portuguesas repetiram ad nauseam que, “dentro de 6 meses a 6 anos” (sic), teríamos a pandemia da gripe das aves. Entretanto foi-se desenvolvendo o negócio florescente da comida orgânica, que já factura mais de 30 mil milhões de euros, sem que o seu valor nutritivo apresente diferenças significativas relativamente aos vegetais e animais produzidos de forma tradicional.

Ultimamente tem-se discutido muito o impacto da actividade humana no aquecimento global, sendo certo que a fundamentação científica aduzida não raro se apresenta com contaminações políticas e comerciais. Por último, recorde-se o recente alarmismo em torno da gripe A, também ilustrativo dos múltiplos interesses que vêm explorando a referida hipersensibilidade ao risco das sociedades ricas e envelhecidas.

Por outro lado, justo é referir que existem instituições que sabem comunicar os riscos com profissionalismo e bom senso, defendendo eficazmente os cidadãos, sem prejudicar os sectores produtivos a favor quer de operadores oportunistas quer de protagonistas vaidosos.

Manuel Chaveiro Soares
Professor universitário

Avicultura Eficiente: Um Modo de Produção Responsável – Manuel Chaveiro Soares


Publicado

em

por

Etiquetas: