“Na hora de assumir o comando, o jovem agricultor não estará apenas a confrontar os livros com a realidade, poderá também incorporar os bons exemplos que observou e evitar os erros que outros cometeram”
Entre as diversas novidades do PDR 2007-2013 sobre instalação de jovens agricultores, surge a exigência de um “plano de formação” que inclui um “estágio inicial na exploração de um agricultor-tutor”. Se a formação já era um requisito conhecido e aceite, a novidade do estágio tem motivado algumas dúvidas sobre sua necessidade efectiva e as dificuldades que pode trazer.
Procuram-se Jovens Agricultores para compromisso duradouro…
O apoio à instalação de jovens agricultores existe desde que Portugal aderiu à União Europeia. Apesar disso, a percentagem de jovens agricultores em Portugal, em 2003, era apenas 2,9%, cerca de metade da média comunitária. Foram poucos os jovens que se instalaram no sector e muitos desistiram ao fim dos cinco anos obrigatórios. Sabemos que houve razões conjunturais, macro-económicas, exteriores ao jovem agricultor e à sua exploração, que inviabilizaram muitos projectos. Mas não devemos esquecer que na agricultura, como em qualquer sector económico, o empresário é o factor-chave para fazer a diferença entre o sucesso e o insucesso da empresa.
Agora, o “Registo prévio de intenção de instalação”, a “avaliação do perfil do candidato, das suas capacidades e necessidades de formação” e o “processo de acompanhamento e avaliação”, combinada com a transformação do anterior “prémio de instalação” em “prémio de desempenho”, (uma parte significativa do prémio apenas é atribuída no final do projecto), são medidas que visam preparar e acompanhar melhor os jovens que se instalam, de modo a reduzir o número de desistências. Confesso as minhas dúvidas sobre a mudança para o “prémio de desempenho”, mas aplaudo publicamente o acompanhamento, a formação e os estágios.
Porquê estagiar?
Antes de mais, convém dizer que não se está a inventar nada de novo, apenas a copiar, tarde, aquilo que já é uma exigência e tradição noutros países. Portugal, pelo contrário, tem cursos agrícolas com muita teoria, pouca prática e quase “zero” de estágios. Uma rara excepção é o caso das escolas agrícolas que funcionam em regime de alternância escola/exploração. Tive oportunidade de estudar nesse sistema, fazer estágios suplementares e receber estagiários na minha exploração ao longo dos últimos anos.
Estagiar significa, em primeiro lugar, experimentar a teoria na realidade. “Quem ouve esquece, quem lê recorda, quem faz aprende”. Obviamente, o jovem agricultor que se instala na exploração dos pais, numa actividade que conhece desde que nasceu, não precisa tanto do estágio como aquele que começa uma nova actividade a partir do zero. Contudo, apesar da experiência familiar, também lhe fará bem “sair da toca”, alargar horizontes, conhecer outras realidades, ver como outros agricultores negoceiam, procuram conselhos, fazem investimentos. Depois, a sucessão já não terá que ser o mesmo filme com novo actor. Na hora de assumir o comando, o jovem agricultor não estará apenas a confrontar os livros com a realidade, poderá também incorporar os bons exemplos que observou e evitar os erros que outros cometeram, sem ter de aprender à própria custa.
Possíveis dificuldades:
Em devido tempo, foi pedida às organizações agrícolas uma lista de agricultores disponíveis para receber estagiários. Pessoalmente, disponibilizei-me para essa tarefa mas ainda não recebi qualquer resposta. Estará a “máquina” do ministério preparada para seleccionar, encaminhar e acompanhar os estágios? Se não está, devia estar. Este assunto é importante e não precisamos de mais desculpas para atrasos. Já são quase dois anos sem instalação de jovens agricultores.
Carlos Neves
Jovem Agricultor