O Douro dispõe de 30 sensores que medem os valores de humidade e temperatura, auxiliam os viticultores a decidir com mais precisão os tratamentos na vinha, possibilitando uma poupança nos produtos e combustíveis, e monitorizam a seca.
“Podemos ter acesso em tempo real àquilo que é a temperatura e a humidade deste local, o que permite desenhar e perspetivar quais são as condições climatéricas para o tempo atual, mas, sobretudo, para informar os senhores viticultores da eventualidade de terem ou não de efetuar tratamentos nas suas vinhas”, afirmou hoje Gilberto Igrejas, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP).
O responsável falava numa vinha em Canelas, concelho do Peso da Régua, distrito de Vila Real, onde o IVDP instalou um dos sensores.
Estes equipamentos ajudam ainda a monitorizar a seca e, segundo Gilberto Igrejas, os “elementos informativos obtidos serão essenciais para regular as atividades de rega”.
No Douro a rega é pontual e apenas permitida em casos “excecionais e quando as condições climáticas assim o exigem”, ou seja, em situações de seca extrema, servindo apenas para “acautelar a sobrevivência das plantas”.
O instituto público escolheu precisamente o Dia Mundial da Água para divulgar o projeto que está a implementar na mais antiga região demarcada e regulamentada do mundo, o Douro.
Os dados recolhidos pelos sensores ficam acessíveis numa aplicação para telemóveis ou no Portal do Viticultor, que pretende ser mais uma ferramenta de trabalho para ajudar os produtores no seu negócio.
Álvaro Dinis é proprietário da vinha em Canelas onde foi colocado um dos sensores e acredita que este equipamento vai trazer vantagens, nomeadamente para a tomada de decisão quanto aos tratamentos a fazer.
Os dados recolhidos dizem respeito ao local e não são generalizados à região demarcada, pelo que a “informação é mais precisa” e pode ajudar a poupar dinheiro nesta altura em que “disparou tudo”, referindo-se ao preço dos produtos fitofármacos ou dos combustíveis.
“Se chover ou vier calor, saber quais e quando as aplicações corretas a fazer”, salientou o viticultor, que se mostrou ainda preocupado com a seca.
Segundo dados referentes a janeiro, o Douro encontra-se em seca moderada. Apesar de a região apresentar características, em termos geomorfológicos e orografia, que podem ajudar a minorar os efeitos das alterações climáticas, os solos xistosos onde estão plantadas as vinhas têm pouca capacidade de retenção de água.
“O que estamos a fazer é antecipar a resposta a um problema que se pode colocar a médio prazo, uma vez que secas severas representam um perigo para os ciclos vegetativos posteriores”, sustentou Gilberto Igrejas.
Os 30 sensores foram espalhados de forma equitativa pela Região Demarcada do Douro e pretendem monitorizar o clima.
“Esta informação vai permitir monitorizar ao longo dos anos quais são as condições de humidade e temperatura dos diferentes locais e podem, por essa via também, constituir um forte utensílio para que nós saibamos ajudar na definição do negócio e, sobretudo, na definição daquilo que são as condições de produção”, afirmou ainda o presidente do IVDP.
Depois, acrescentou, os dados climáticos que serão obtidos “ano após ano” vão ser cruzados com os dados da produção, que os agricultores vão tendo nas diferentes parcelas.
“Podemos correlacionar qual é o rendimento desta parcela e qual é o montante de uvas que foram daqui levadas para vinificação e se os dados climáticos que nós tivemos ao longo do ano influenciaram ou não essa produção”, frisou.
Para o presidente do IVDP, o caminho a seguir na vitivinicultura do Douro face às alterações climáticas passa “por colocar a ciência ao serviço da agricultura, racionalizando-se procedimentos e provocando uma mudança de práticas”.
IVDP instala sensores na Região Demarcada do Douro para racionalizar o uso da água na rega