Filipe Lavrador

Reinício – transitando para um consumo verdadeiramente ecologista – Filipe Lavrador

As vaidades alimentares, dependentes da importação de produtos, terminaram. Felizmente, para a nossa economia e para o nosso ambiente, os pratos bonitos e cheios de boas energias podem também ser feitos com alimentos locais e de temporada, tradicionalmente presentes nas nossas dietas. Por sua vez produzidos por profissionais qualificados que diariamente lutam para a manutenção dos seus negócios e para o aumento da qualidade de vida das suas famílias.

Nesta fase de transição, as necessidades de alimentação estão a assumir uma maior proporção nos gastos familiares, um fenómeno que alerta o consumidor para a oferta de proximidade e acelera a transição digital da economia circular.

A suspensão dos mercados de produtores e a redução das encomendas a restaurantes e hotéis, obriga os produtores a testar esta abordagem para chegar mais facilmente aos centros de consumo, localizados agora nos bairros habitacionais. Uma oportunidade única para a afirmação da economia circular, promovendo-a para que seja a base de uma escolha quotidiana dos consumidores nos tempos pós-Covid19.

Porém o grande retalho está já alarmado com essa transição repentina. E a tentar aproveitar algumas brechas, com declarações de interesse sobre as suas boas ações que alienam a atenção do consumidor para as fábulas de colocar nos hipermercados o resultado do trabalho dos pequenos produtores locais. Mesmo que seja em pequena parte verdade, a realidade é que a grande procura verificada nas grandes superfícies está a criar empregos a prazo e altamente precários. Paralelamente, a sua posição dominante leva a que os produtores sejam cada vez mais pressionados a produzir rapidamente, barato e – por corolário – com menor qualidade.

É esta a soberania alimentar que o nosso país e os consumidores exigem? Consta que não: o consumidor quer ter acesso a uma boa alimentação a um preço acessível, mas igualmente quer fazer chegar ao produtor a justa valorização do seu trabalho.

É inegável que o consumo de um alimento oriundo de parte longínqua é motivante para quebrar a rotina. Todavia, tal poderá ser feito esporadicamente quando transitarmos para uma economia justa e de importações responsáveis, promovendo um ciclo virtuoso que respeita as boas condições ambientais e reduz a pegada ecológica da sociedade.

Filipe Lavrador

Engenheiro Agrónomo.


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