O estudo Renaturalizar com o Castor na Península Ibérica – Potencial Económico para Restauro Fluvial da autoria de Daniel Veríssimo e Catarina Roseta-Palma, acabou de ser publicado na revista científica Nature Based Solutions.
O Paper partiu da análise do programa de recuperação de rios e ribeiros desenvolvido pela Agência Portuguesa de Ambiente (APA). Este programa, com um custo aproximado de 12 milhões de euros, incluiu muitas intervenções que poderiam ser feitas de forma equivalente pelo castor livres de custo, como suavizar as margens das ribeiras, criar pequenas barragens com ramos, promover a dispersão de sementes ou até controlar espécies invasoras.
O castor é um herbívoro que se alimenta exclusivamente de ervas, folhas, plantas aquáticas e casca de árvores. É uma espécie nativa de Portugal e de Espanha, mas foi extinto no século XVI devido à caça e perda de habitat. Tem vindo a regressar a vários locais na Europa e já está presente na Península Ibérica, no rio Ebro e no lado espanhol dos rios Douro e Tejo, mas continua extinto em Portugal.
A reintrodução do castor é uma solução de base natural para o restauro de ecossistemas, que é essencial para adaptar a paisagem às alterações climáticas, reverter a perda de biodiversidade e reduzir problemas de poluição. A década de restauro de ecossistemas 2021-2030 da ONU e a estratégia de biodiversidade da União Europeia realçam a importância desta abordagem.
Torna-se, assim, fundamental encontrar soluções “custo eficientes” para o restauro de ecossistemas: em vez de substituir processos naturais por intervenções humanas, devem ser restauradas as funções que asseguram que o ecossistema se consegue regular por si mesmo. Um ecossistema recuperado não precisará de ações de restauro repetidas no tempo.
O castor, por ser uma espécie chave, desempenha um papel único nos ecossistemas ribeirinhos. Através da construção de pequenas barragens naturais (com ramos, pedras e lodo), canais ao longo de ribeiros e riachos e corte de vegetação nas margens, o castor cria e mantém uma grande variedade de habitats que beneficiam muitas outras espécies.
O estudo em causa não contabiliza a totalidade dos potenciais benefícios, mas enumera várias vantagens que o possível regresso do castor pode trazer para Portugal, como reduzir o impacto dos fogos florestais, armazenar água na paisagem e regular os fluxos de cheias. Serão também expectáveis novas oportunidades para o turismo de natureza em zonas rurais.
Apesar de o castor ser um animal adaptável, ainda serão necessários estudos de viabilidade ambiental para descobrir os melhores locais onde poderá habitar e desenvolver boas práticas de coexistência, que são chave para prevenir conflitos com as atividades humanas. No entanto, a reintrodução do castor revela-se vantajosa pelos inúmeros benefícios económicos, sociais e ambientais que poderá trazer para Portugal.