Restauração e alojamento turístico reuniram-se para debater soluções e propor mais inovação

Terminou ontem o Congresso Nacional da AHRESP, com o tema “Gestão é ter o coração do lado certo”, que, durante dois dias, no Parque de Exposições de Aveiro, contou com cerca de 1.600 inscritos (empresários, formandos, professores, especialistas e decisores, entre outros). Das diferentes intervenções, que abordaram temas como a inteligência artificial, saúde mental, inclusão e capacitação de imigrantes, sustentabilidade, dinâmica de marcas, fiscalidade e logística, destacam-se as conclusões do Barómetro da Restauração e Similares, realizado pela Nielsen IQ, e o estudo sobre demissões silenciosas no Turismo, avançado pelo Laboratório Knowledge to Innovate Professions in Tourism (KIPT). Ambos os estudos foram feitos em parceria com a AHRESP.

Na abertura dos trabalhos, e a propósito da proposta de Orçamento do Estado para 2025, Carlos Moura reiterou que existe sempre, por parte da associação, a disponibilidade “para encontrar soluções.”  O presidente da Direção da AHRESP elencou algumas das 25 medidas para o OE que a associação apresentou e que considera essenciais para as mudanças necessárias para os setores representados pela AHRESP não estagnarem e para continuarem a contribuir para a economia nacional.

“A reposição do IVA para a taxa intermédia (13%) em toda a fileira da alimentação e bebidas é fundamental”, defendeu. Outra sugestão passa pela “criação de uma alta escola de Gastronomia, com o objetivo de elevarmos ainda mais o patamar da qualidade e da excelência, em termos de conhecimento, de qualificação e de competências técnicas”.

Carlos Moura defendeu, ainda, programas de apoio à integração de migrantes (habitação, formação e valorização), bem como o aumento do salário médio, devendo, para isso, ser criado um ambiente mais favorável para as empresas desenvolverem os seus negócios. Quanto à taxa turística, o presidente da AHRESP reiterou a oposição da associação, sendo que, a existirem, a receita deve ser aplicada em prol das comunidades locais.  Referiu, ainda, a importância da capitalização das PME, o reforço do capital próprio, a aplicação de moratórias financeiras com garantias mútuas e o apoio ao investimento em eficiência energética, eficiência hídrica e transição digital.

Barómetro da restauração e similares

Ana Paula Barbosa, Diretora de Serviços para o Retalho da Nielsen IQ, revelou os primeiros números do Barómetro da Restauração e Similares, realizado em parceria com a AHRESP. De acordo com o estudo, as dificuldades no recrutamento e a contração do negócio são preocupações, com 1 em cada 3 inquiridos a responder que perceciona que o seu negócio decresceu nos dois primeiros trimestres de 2024.

Cerca de 36% afirma ter sentido quebras no consumo durante este período de tempo, o que pode justificar a percentagem de 42% de inquiridos que se diz pouco confiantes relativamente aos próximos 6 meses. Mais de metade (52%) perceciona que o volume de negócios do setor está a decrescer. Menor poder de compra (80%) é a principal razão apresentada como potencial motivo para as quebras de consumo. Apenas 22,1% dos clientes habituais são turistas e existe a perceção de que as quebras de negócio foram maioritariamente à semana e ao almoço.

A falta de formação ou experiência (66%) é a principal dificuldade sentida no recrutamento de pessoas para trabalhar no setor, seguindo-se a burocracia necessária (24%), os problemas de comunicação (língua portuguesa) e a pouca oferta ou falta de pessoas interessadas.

Mais de metade (59%) têm trabalhadores estrangeiros, sendo a nacionalidade brasileira a predominante (79%). As questões de mão de obra são um desafio para o canal HORECA – 1 em cada 3 inquiridos diz que precisa de contratar mais trabalhadores, em média cerca de duas pessoas, principalmente para servir à mesa ou balcão, mas também para a cozinha.

A temática dos impostos e tributação (48%) é o que mais preocupa os entrevistados nos próximos 6 meses. Estes resultados dizem respeito à primeira vaga (1º e 2º trimestre 2024). O estudo foi elaborado com base num inquérito online realizado durante os meses de agosto e setembro.

Demissão silenciosa nas empresas do Turismo

No segundo dia de Congresso, a sessão “Saúde e Inclusão” trouxe à discussão a saúde mental no trabalho, com Gaspar Ferreira, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, a alertar para a importância do bem-estar nas empresas.

Antónia Correia, presidente do KIPT, avançou que o risco de quiet quitting (demissão silenciosa) é maior nos trabalhadores solteiros (25%), e nos que têm entre 25 e 34 anos (28%). Os portugueses estão em maior risco de aderir à prática (23%) do que os estrangeiros (18%), assim como os empregados com formação profissional e superior (57%), seguidos dos que têm formação inferior ao ensino básico (50%). A propensão para desistir é maior entre os que ganham mais de 3 mil euros (35%), seguidos dos que ganham até 999 euros (24%).

Entre as conclusões que constam no estudo feito pelo laboratório KIPT em parceria com a AHRESP, verifica-se que, para otimizar a retenção de talentos, é necessário haver uma gestão eficaz, ou seja, adaptada às necessidades dos diferentes tipos de trabalhadores – mais jovens, imigrantes, profissionais com formação superior. “One size fits all não funciona na retenção de talentos”, assegura Antónia Correia.

Oradores

Pelo congresso deste ano passaram o Ministro da Economia, Pedro Reis, o Secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, o Chefe do Estado-Maior, Almirante Gouveia e Melo, o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, entre outros oradores de referência das áreas empresarial, institucional e académica.

Mário Centeno explicou que devemos ser otimistas porque “a economia portuguesa vive uma situação privilegiada e cresce há mais de uma década, convergindo com a área do Euro.” Afinal, “o investimento nacional tem tido uma dinâmica maior do que o da Europa”, que “não está a crescer há muitos trimestres seguidos,” disse, ressalvando que, ainda assim, é necessário haver precaução. “Nós temos, em 2024, o aumento da despesa pública maior que temos registado desde 1992. O aumento da despesa permanente cria problemas para o futuro.” Revelou, ainda, que Portugal vive uma situação inédita de crescimento: “Foram criados cerca de 5 milhões de empregos. Há 10 anos, eram apenas 4 milhões.”

Durante a sessão de abertura, Raúl Almeida, disse que o turismo “não existia sem a ajuda das empresas” e que “de nada serviria a atratividade da região centro se a oferta hoteleira e da restauração não estivesse vindo a subir e a oferecer experiências ao nível dos melhores.” José Ribau Esteves destacou que, “nesta área da restauração e da hotelaria, o profissional só acede à excelência quando se entrega, com o coração, no trabalho que está a fazer.” Para o presidente da autarquia de Aveiro, “é preciso saber falar português, conhecer a cultura portuguesa e assumir aquela que é uma nota distintiva do ser português – a capacidade extraordinária de acolher e receber os outros.”

No último dia, a AHRESP dedicou uma das sessões aos seus associados há mais de 25 anos e de 50 anos. Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, homenageou-os, referindo que “um turismo forte necessita de um associativismo forte. A AHRESP é, claramente, um exemplo disto mesmo.”

O Congresso Nacional da AHRESP, que contou com mais de 62 oradores, 36 expositores de parceiros, incluindo 8 pertencentes a autarquias do distrito de Aveiro (Mealhada, Anadia, Sever do Vouga, Ílhavo, Santa Maria da Feira, Albergaria-a-Velha, Águeda e Aveiro), disponibilizou sessões temáticas, workshops, apresentações de casos de sucesso e outras atividades paralelas, com o objetivo de partilhar conhecimento, boas práticas e soluções inovadoras para o futuro.

O artigo foi publicado originalmente em Gazeta Rural.


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