A investigadora portuguesa Cristina Azevedo, diretora do departamento de Biopesticidas do InnovPlantProtect, um novo Laboratório Colaborativo sedeado em Elvas, é uma percursora da redução de utilização de plásticos nos laboratórios de investigação. Esse feito não passou despercebido à revista Nature, que na sua edição de maio, evidencia o esforço de Cristina Azevedo e de outros cientistas na procura de alternativas ao plástico nos laboratórios.
Embora os materiais de plástico de uso único sejam necessários para a realização de muitas experiências, a especialista em Bioquímica não descansou enquanto não descobriu como reduzir esse desperdício, considerado atualmente um dos graves problemas ambientais.
A ideia surgiu quando Cristina Azevedo era investigadora no Laboratory for Molecular and Cell Biology (LMCB), integrado na University College London, onde lhe passaram pelas mãos centenas de tubos e pipetas de plástico descartáveis. Para garantir a esterilização – necessária para não contaminar os meios de cultivo -, usava-os uma vez e descartava-os para serem autoclavados. Esta é a realidade na maioria dos laboratórios do mundo, cuja pegada ambiental é astronómica comparada com outras atividades.
Como exemplos, a Nature refere que o consumo de energia das instalações académicas de investigação é três a seis vezes maior do que dos edifícios comerciais, devido, em grande parte, aos sistemas de refrigeração e de ventilação. Como agravante, os laboratórios de investigação são também grandes produtores de lixo, um problema, lê-se na Nature, que se tornou “particularmente grave desde 2017, quando a China parou de aceitar vários tipos de plástico para reciclagem vindos dos Estados Unidos e da Europa, fazendo com que mais resíduos fossem empilhados em aterros sanitários locais.”
No LMCB, a investigadora sentia-se cada vez mais inconformada com o facto de trabalhar com grandes quantidades de plástico para usar e deitar fora. Numa semana, só ela utilizava em média 150 tubos Falcon de 50 ml. E no LMCB eram mais de 700 tubos, por semana.
Para quem, como ela, cultivava bactérias e leveduras em frascos de vidro reutilizáveis quando fazia investigação durante o doutoramento, os tubos de plástico não faziam sentido. “O meu próprio trabalho estava a incomodar-me, porque via à minha volta uma quantidade de tubos de plástico deitados fora por causa da necessidade de trabalhar em condições assépticas”, afirmou à Nature.
Para tornar o seu trabalho em laboratório “mais verde”, Cristina Azevedo andou à procura de uma empresa que vendesse tubos de vidro. Foi difícil encontrar, tendo em conta que o vidro entrou quase em desuso nos laboratórios e os tamanhos e volumes deixaram de ser compatíveis com as câmaras de crescimento. A razão é simples: embora seja caro, o material de plástico descartável é mais prático e já vem esterilizado. O material de vidro precisa de ser lavado e posteriormente esterilizado para não comprometer os resultados das experiências. Por esta razão, os laboratórios, sobretudo os que são financeiramente mais desafogados, foram substituindo os tubos reutilizáveis pelos descartáveis.
Quando finalmente encontrou uma empresa que comercializava tubos em vidro, Cristina encomendou uns quantos para se certificar que as leveduras e as bactérias cresciam tão bem em vidro como cresciam em plástico. E verificou que sim. Encomendou então a quantidade de tubos de vidro necessária para todo o instituto e, a partir de então, início de 2018, o vidro voltou a reinar no LMCB.
Feitas as contas, só no ano de 2018 no Laboratory for Molecular and Cell Biology Cristina Azevedo evitou que fossem para o lixo 252 000 tubos de plástico. Imagine-se se o mesmo acontecesse em todos os laboratórios do mundo.
Este trabalho em prol da sustentabilidade enriqueceu o Curriculum de Cristina Azevedo e ajudou-a a destacar-se quando se candidatou ao cargo atual de diretora do Departamento de Biopesticidas do Laboratório Colaborativo InnovPlantProtect, em Elvas, onde a investigadora afirma que pretende continuar o esforço na redução do uso de materiais de plástico.