Uma revolução tecnológica na agricultura – Rui Almeida

Apesar dos desenvolvimentos dos últimos anos, a agricultura é ainda considerada por muitos uma atividade tradicional e de baixo input tecnológico. Na verdade, este argumento tem alguma razão de ser, porque em muitos casos as explorações agrícolas não introduzem tecnologia de forma consolidada nas suas atividades. Em Portugal, esta realidade é comum em zonas de pequena propriedade, sobretudo quando são de sequeiro, mas existe também nalgumas explorações de média e de grande dimensão.

Mas se isto é verdade o oposto também o é. Nalgumas zonas do país, existem bolsas de investimento na agricultura e utilizam-se tecnologias equiparadas ao que de melhor e mais inovador se faz no mundo. Nas novas áreas regadas do perímetro de rega do Alqueva, na região do Ribatejo ou mesmo no Sudoeste Alentejano, por exemplo, existem agricultores que marcam a diferença e que trouxeram para a região nos últimos anos um conjunto de culturas e práticas altamente inovadoras.

Outro aspeto que caracteriza a agricultura neste momento é o que se tem vindo a designar como “digitalização” do setor (o termo “agriculture digitization” foi adotado na UE pela DG Agri como a grande aposta para 2017!). A digitalização centra-se sobretudo na utilização de dados e de informação recolhidos no terreno, e no tratamento e utilização dessa informação para melhorar processos e práticas culturais. No entanto, está também relacionada com a crescente adoção de novas tecnologias pelas explorações agrícolas, em todas as áreas, incluindo na rega, na mobilização dos solos, no combate a pragas e doenças, ou na fertilização.

O que está a acontecer atualmente no setor agrícola a nível global é de facto impressionante. A agricultura pode ter sido dos últimos setores a adotar a “revolução tecnológica”, mas neste momento está tudo a acontecer muito depressa. Na última década, o setor foi adotando tecnologias como a utilização de imagens por satélite, os mapas digitais de produtividade, o GPS, algoritmos para otimizar a aplicação de adubos e fitofármacos, ou os sistemas de monitorização e controlo da água de rega, e isto foi mudando o paradigma de muitas explorações agrícolas.

Mais recentemente, muitas empresas da área tecnológica aperceberam-se do muito que havia para fazer no setor agrícola e na oportunidade que isso poderia gerar, e em pouco tempo criou-se todo um movimento de desenvolvimento e adoção de tecnologias disruptivas na agricultura. Conceitos como IoT (Internet of Things), big data, cognitive agriculture e robotization passaram a ser comuns, com grandes empresas (e algumas do setor agro) a investirem milhões de euros em novas áreas de negócio ou em spin offs de base tecnológica que poderão revolucionar a agricultura.

Esta “revolução” poderá ter dois grandes impactos no setor. Por um lado, aposta-se no aumento da produtividade e numa utilização mais eficiente dos recursos (produzir mais com menos, e sobretudo com menores custos), melhorando assim a competitividade das explorações agrícolas. Isto é fundamental no setor, uma vez que muitos produtos agrícolas são commodities, e por isso sujeitos a uma forte concorrência no mercado global. Por outro lado, aposta-se na sustentabilidade, reduzindo a pressão que existe sobre o setor, que terá que alimentar 9 mil milhões de pessoas em 2050. O objetivo é que a agricultura consiga fazer isto sem colocar ainda mais pressão sobre a utilização dos recursos naturais (água, energia, solos, …). Esta questão está também diretamente relacionada com o problema das alterações climáticas e o seu impacto na agricultura.

Os problemas e as necessidades trazem sempre consigo oportunidades! Em primeiro lugar, Portugal não pode ficar de fora da revolução tecnológica do setor que vai acontecer nos próximos anos a nível Europeu e a nível global, porque isto constitui uma grande oportunidade para as empresas tecnológicas que consigam desenvolver produtos, processos ou serviços competitivos nesta área. Em segundo lugar, é necessário criar condições para que os investimentos de milhões de euros que estão a ser feitos no setor agrícola em Portugal (por exemplo, no Alqueva) continuem e criem empresas competitivas a nível internacional (as exportações do setor hortofrutícola, por exemplo, cresceram cerca de 10%/ano nos últimos cinco anos!). Em terceiro lugar, é necessário “democratizar” a utilização destas tecnologias, porque se isto não acontecer as explorações agrícolas mais pequenas e menos inovadoras não vão ter capacidade de competir no mercado global, levando ao fecho das empresas e ao abandono das áreas rurais.

O setor agrícola nacional, pela importância que tem a nível económico e a nível social, e pelo papel que desempenha na gestão do território, nomeadamente nas áreas rurais, não pode passar ao lado da revolução tecnológica deste princípio de século. Esta revolução está a acontecer neste momento, e a um passo acelerado, noutros países, que estão a fortalecer e a tornar mais competitiva a sua agricultura. Se em Portugal não se fizer o mesmo perde-se uma oportunidade para que as empresas de base tecnológica possam competir por estes novos mercados e corre-se o risco de o setor agrícola perder capacidade competitiva a nível internacional, com consequências económicas, sociais e ambientais que poderão ser muito graves.

Esta é, portanto, uma revolução em que todos queremos e devemos participar para que a inovação e a tecnologia possam ser os grandes impulsionadores de uma nova realidade na agricultura em Portugal.

Rui Almeida

Direção Operacional –  Consulai

 

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