Risco Climático – Transferir, Reduzir ou Evitar? – António Lobo

As organizações empresariais agrícolas enfrentam riscos mais do que outros setores empresariais porque os produtos e serviços agrícolas estão relacionados a processos naturais e ativos biológicos: doenças de plantas e animais e eventos climatéricos. Esta realidade, cada vez mais presente, coloca mais pressão nos decisores na hora de escolher a opção certa para responder ao risco climático.

Independentemente da maturidade de cada agente económico, em particular as empresas, o processo de gestão de risco é uma prática incontornável. Este conjunto de atividades e procedimentos coordenados visam a identificação, gestão e acompanhamento das ameaças que gravitam a órbita das empresas.

Sem demérito de outro tipo de abordagem, mais ou menos profunda, a aplicação do modelo TARA é amplamente reconhecido, aceite e transversal a qualquer indústria e tipo de organização. Esta ferramenta, que integra várias metodologias de gestão de risco, define quatro formas de lidar e decidir sobre cada situação de risco, previamente identificada: Transferir , Aceitar, Reduzir ou Evitar (Avoid em inglês) o risco. Na prática é uma matriz simples que sistematiza o tipo de risco, estabelecendo uma relação entre probabilidade de ocorrência, o impacto financeiro e o tipo de ação que cada referido binómio carece.

 A aceitação do risco deve ser considerada quando a probabilidade de ocorrência e impacto financeiro são baixos, ou seja, a empresa pode conviver confortavelmente com esse risco, consciente de que a sua ocorrência remota não trará consequências financeiras de maior, portanto de resolução interna viável.

Deve transferir-se o risco quando o impacto financeiro como resultado da sua ocorrência for alto, pese embora a probabilidade de se verificar ser considerada remota ou menos provável. A ferramenta mais comum de transferência de risco é através da apólice de seguro, ou noutros casos instrumentos financeiros mais complexos (ex. hedging). Transportando o exemplo para a indústria agroalimentar, o seguro de colheitas (e também o seguro pecuário ou seguro de ativos biológicos) é uma solução concreta para transferência de riscos de impacto grave, quando pouco provável.

redução ou controlo de risco é a opção mais adequada quando este seja altamente provável, ainda que o seu impacto seja considerado baixo. Ou seja, nestas circunstâncias é mais razoável procurar-se diminuir a exposição ao risco, através da implementação de soluções que o mitiguem (e.g. redes de granizo em regiões recorrentemente afectadas por este evento).

Evitar o risco é a solução quando o impacto do evento é considerado alto e a sua concorrência seja altamente provável. Nestas circunstâncias a solução de transferência pode não existir ou simplesmente ser mais cara do que o impacto expectável. Por outro lado, o custo de reduzir a sua exposição, através de ferramentas mitigadoras é tão elevado que o único caminho para evitar o risco é simplesmente não se expor.

Neste contexto, apesar do Seguro de Colheitas responder diretamente a riscos climáticos, não é necessariamente a melhor decisão para todas as situações desta natureza de riscos. Para o risco climático ou climatérico, o seguro de colheitas deve ser considerado até ao limite da frequência dos eventos que se pretendem cobrir – se os eventos cobertos forem regulares, então o risco deve reduzir-se ou evitar-se.

A maior parte dos riscos climáticos tem geralmente um impacto elevado nas produções e consequentemente no desempenho financeiro das empresas agrícolas, 100% dependentes da venda da produção.

Ao analisar as opções desta matriz, à primeira vista, será legítimo argumentar que em qualquer um dos quadrantes, com excepção daquele que corresponde a baixo impacto e reduzida probabilidade de ocorrência (opção “Aceitar”), deve procurar-se sempre transferir o risco.

Se é verdade que o consumidor inteligente deve escolher a solução mais barata, não o é menos que o custo da transferência do risco também varia consoante a frequência da sua ocorrência e o impacto desta. Isto não é mais do que o ajustamento da oferta às características do risco que se pretende transferir. Ou seja, quanto mais provável ou maior for o risco mais caro será o custo da sua transferência, ao ponto em que deixa de ser financeiramente viável.

Eventualmente, no caso do seguro de colheitas, a capacidade de discernir cada um dos cenários, sobretudo quando se tratam de riscos frequentes e impactantes, pode ficar comprometida fruto da intervenção externa (vulgo, subsídios), ao ponto de se considerar transferir em vez de evitar.

Muitos são os casos em que a linha que divide a opção entre transferir ou reduzir é muito ténue. Neste tipo de enquadramento, deve considerar-se uma abordagem híbrida, a aplicação simultânea de ferramentas físicas de redução do impacto climático sobre a produção e ferramentas de transferência do risco como o Seguro de Colheitas.

Esta abordagem combinada oferece uma resposta muito mais eficaz –reduz o risco e diminui o custo da sua transferência.

Por outras palavras, ao implementar mecanismos de redução, como por exemplo as torres anti-geada, reduz drasticamente a exposição a este evento climático e mantém a segurança do seguro – nestas circunstâncias mais barato – para a eventualidade do sistema anti-geada falhar. Esta opção fica apenas condicionada pela análise financeira, que será validada sempre que a poupança a médio/longo prazo no custo de transferência do risco compense o investimento na sua redução (geralmente também apoiada com subsidio) – “é fazer as contas”.

António Lobo

Artigo publicado originalmente em ATLAS Agro Insurance MGA.


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