Sem respeito por nós, como se pode ser agricultor familiar neste País?
Sim, porque somos hoje provavelmente a classe mais abandonada à nossa sorte em Portugal.
Como é que se pode ajudar a contrariar a desertificação do interior, se o Governo não apoia aqueles que ainda persistem em viver, cultivando e produzindo, quando o que produzem não é valorizado, de forma a incentivá-los a continuar a produzir?
Com um Estatuto da Agricultura Familiar aprovado, mas distribuído por várias gavetas de vários Ministérios, e não regulamentado, ao serviço de oportunidades que não sabemos bem quais, nem a quem servem, quatro anos depois ainda aguardamos notícias.
Com uma seca severa às costas e sem qualquer indício de melhoria, já com as culturas de outono/inverno irremediavelmente perdidas a par das pastagens e forragens para alimentar os nossos animais, e as de primavera/verão seriamente comprometidas, quantos sobreviverão?
Com os combustíveis ao preço especulativo e proibitivo a que se encontram, em nome de uma guerra para a qual não contribuímos, para quando um preço estável para todos os factores de produção?
Com os preços à produção estagnados e em muitos casos mais baixos do que estavam há trinta anos, apesar dos preços aos consumidores nunca deixarem de subir, mais uma vez em nome da especulação, e sem regras estabelecidas em nome do sacro-santo mercado, e sem que se reflictam nos preços à produção, em nome de que interesses é que nos pedem que continuemos?
Com os animais selvagens sem controle de qualquer espécie, e sem que alguém assuma devidamente o pagamento dos prejuízos por eles causados, só falta pedirem-nos para mudarmos a cama para junto das nossas culturas.
Com um Governo a fazer de morto e em silêncio sobre todas estas questões, e uma União Europeia mais interessada em manter desligadas as ajudas da produção, indexando-as á superfície, e desde logo ao serviço dos mesmos de sempre, resta-nos, sem desânimos, o caminho da rua, protestando, e reclamando outras e melhores políticas, ao serviço da alimentação do povo Português, que pode muito bem vir a estar ameaçada quando menos o esperarmos.
Por tudo isto e por mais algumas coisas que ficaram por dizer, delegações de agricultores Alentejanos participarão na iniciativa promovida pela CNA no dia 24 de Março em Braga.