
Um estudo pioneiro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) revelou, pela primeira vez, o valor económico dos polinizadores para a agricultura nacional: mais de 2 mil milhões de euros por ano, dos quais 1,1 mil milhões resultam diretamente da ação de abelhas selvagens, moscas-das-flores e outros insetos.
O trabalho, publicado na revista científica Regional Environmental Change, foi desenvolvido por investigadores do FLOWer Lab, integrado no Centre for Functional Ecology: Science for People & Planet do Departamento de Ciências da Vida. A equipa é composta por Catarina Siopa, Hugo Gaspar, Helena Castro, João Loureiro e Sílvia Castro.
Metade das culturas agrícolas depende dos polinizadores
De acordo com o estudo, 54% das culturas agrícolas em Portugal dependem diretamente dos polinizadores.
“O valor económico calculado tem origem não só nas culturas altamente dependentes da polinização, como também nas culturas com menor grau de dependência, mas de grande importância económica”, explica Catarina Siopa, primeira autora do estudo.
As culturas mais beneficiadas pela polinização incluem maçã, framboesa, pera, abacate, tomate industrial, mirtilo, amêndoa, kiwi, laranja e morango.
Polinização melhora qualidade e conservação dos alimentos
O impacto dos polinizadores vai muito além da quantidade produzida. Eles também influenciam a qualidade nutricional, o tempo de prateleira e a capacidade de conservação dos produtos agrícolas — benefícios que, em muitos casos, ainda são difíceis de quantificar.
Embora a área agrícola total em Portugal tenha diminuído 49% desde 1980, a área dedicada a culturas dependentes de polinizadores aumentou 36% na última década. Esta tendência reflete a aposta crescente em frutas frescas, frutos secos e hortícolas, culturas mais rentáveis e que dependem fortemente da polinização.
Ameaças crescentes à sustentabilidade
Os investigadores alertam que os polinizadores enfrentam ameaças sérias, como a intensificação agrícola, a simplificação da paisagem, as alterações climáticas e a urbanização. Estes fatores podem reduzir a abundância e diversidade dos polinizadores, comprometendo a sustentabilidade da produção agrícola.
“Os polinizadores são um verdadeiro pilar da economia agrícola nacional. Sem eles, muitas das culturas mais valiosas em Portugal deixariam de ser economicamente viáveis”, afirma Sílvia Castro, docente e investigadora da FCTUC.
Políticas para proteger os polinizadores
Segundo os investigadores, os resultados do estudo fornecem uma base científica sólida para o desenvolvimento de políticas agrícolas e ambientais mais sustentáveis. Os autores defendem que é urgente “integrar medidas de conservação de polinizadores na gestão agrícola”, nos programas de apoio ao setor e nos planos de ordenamento do território.